Antônio Cardoso conta que passou cinco horas na Lagoa Mundaú e conseguiu pescar apenas um peixe – Foto: Edilson Omena
Pescadores do bairro do Vergel do Lago, em Maceió, estão sofrendo com a escassez de peixes na Lagoa Mundaú. Segundo o pescador Cícero Cardoso, já estão há mais de três meses sem conseguir pescados. “Antes era bagre, tainha, camorim, todo tipo de peixe. Agora, só estamos conseguindo siri. A gente pega siri e o que dá para vender nós vendemos e o que não dá a gente come. Se a gente parar, não tem como sobreviver”, afirmou.
Cardoso lamentou também o sumiço do sururu, que vem desde junho do ano passado. “Antes, tínhamos muito peixe e sururu. Sururu sumiu e não apareceu mais. E agora são os peixes, que não sabemos o motivo para não aparecer mais. Nunca aconteceu isso antes”, disse.
Há 35 anos vivendo da pesca na Lagoa Mundaú, o pescador Antônio Amaro também reclama da escassez. “Passamos quase cinco horas pescando e só conseguimos uma carapeba. Uns dizem que é por causa da Salgema, mas eu não sei, não posso afirmar nada. Quando a maré enche um pouquinho é que a gente consegue um peixe ou outro. Mas, antigamente, nessa época era bagre, mandi, carapeba, camorim. Agora, está muito fraco”, contou.
Em abril deste ano, um laudo realizado por pesquisadores do Centro de Estudos e Ciências Agrárias (Ceca) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) apontando a contaminação da Lagoa Mundaú foi encaminhado ao Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL).
A pesquisa sobre a situação da qualidade da água foi realizada após uma grande mortandade de peixes, registrada pelos moradores do Flexal, em março do ano passado. Assim que a denúncia chegou aos pesquisadores, eles pediram aos moradores da região que fizessem a coleta da água nos pontos onde os peixes apareceram mortos.
Na análise, foi constatado um ambiente aquático poluído e hostil, contaminado por produtos químicos e metais pesados, com baixa oxigenação, assoreamento e salinidade alterada. Segundo os pesquisadores, foi encontrada uma quantidade enorme de produtos que ocasionaram a mortalidade de peixes na Lagoa Mundaú. Entre eles, manganês, hidróxido de potássio, magnésio, pesticida, inseticida, raticida e nitrato.
O coordenador da análise, professor Emerson Soares, classifica o caso como um “crime contra a saúde pública”. “Esse laudo traz um problema gravíssimo. Isso é grave. Do ponto de vista legal isso é criminoso. Usar um produto, um pesticida, que é proibido pela OMS inclusive. O outro composto, o NPK é de fertilizante e agroquímicos também. Por isso tem que ser analisado. Quem é que trabalha com isso? Cana, plantação às margens? Não é numa área tão longe, porque o peixe não morreu em toda a área, foi em uma certa área. Além de tudo isso tem a presença de metais pesados que podem estar em algum produto químico que vem sendo acumulado também”, afirmou.
Emerson esclareceu que as análises identificaram a ocorrência de duas situações distintas: o lançamento de produtos químicos e alto nível de poluição.
Por Tribuna Independente