Destruir Reputação, a nova moda social

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Lembro bem, com pouca idade, quando uma criança fazia uma traquinagem indevida, seus pais o chamavam para uma prestação de contas

Feita a “defesa” com argumentos de fuga, um conselho nada agradável para as costas ou para cabeça com o doloroso “croque cascudo” vinham, e ainda era arrematado: Os pais diziam, “…quem mente o rabo espicha”.

Entendia que mentir não dava certo e que, pela reação dos  pais, mentir era coisa de gente ruim, mas não entendia por que o “rabo de alguém espichava quando mentia”

Ainda hoje não tenho uma pacífica explicação semântica que esclareça  o  “espichar de rabo na mentira”.  

Quero entender que o rabo referido é o traseiro do mentiroso, e um rabo espichado nada de beleza exibe, deixando à mostra o que todo mundo quer esconder. 

Nos últimos tempos, uma enxurrada de mentiras, nada pueris, vem sendo usada como meio produtivo de interesses  opróbrios construídos na destruição da reputação de outrem. 

Tange-nos, contudo, a incerteza se esse comportamento perverso e nocivo corre por conta de mau-caráter, se por ignorância, ou se por arroubos voluntariosos impensados. 

O que choca nas falas sociais, quer pelas redes de comunicação, quer pelas radiofonias, quer nos encontros de fim de semana entre amigos, é ouvir ou ler de pessoas de nível universitário, que sabem conscientemente que informação é mentirosa (fake News), espalharem deliberadamente para desqualificar um eventual opositor, maculando sua boa reputação. 

O escritor francês Michel Quoist em sua obra “Construir o Homem e o Mundo” registra que: “A pessoa dominada pela razão anda de cabeça erguida; dominada pela emoção anda de cócoras; e dominada pela paixão anda rastejando como serpentes”. 

Vejo soberba razão no pensamento do escritor francês. Quando a pessoa se atira nos caminhos da paixão instila a peçonha das serpentes para conscientemente matar.  

Na realidade são pessoas muito piores que as serpentes, pois estas picam pelo instinto de defesa, enquanto as pessoas injetam o veneno pela vontade de destruir. 

Nos últimos tempos a política partidária tem sido campo fértil para essas chicanas medievais, com pessoas que “entendendo-se políticas” desqualificam os valores da República e dos princípios democráticos, se vestem no couro da incivilidade e propalam suas “fake news” com aspiração de destruir o adversário. 

Ora, a política, o político sério e digno não desenvolvem esse gládio mesquinho e bestial numa arena de mentiras e de ataques idiotas, como se a anarquia fosse o esteio do regime democrático. 

O bom político, assim como seus seguidores sabem que a política é a arte de bem servir à comunidade, não comporta uma serventia mentirosa e falsa porque a democracia não tem esteio em terreno movediço.  

A vida política aqui e alhures, no Brasil, nos EUA, na Europa e em outros países é composta de eventos que revelam o status político dos poderes, ora com benesses à população, ora com bicheira carcomendo os recursos públicos e deixando o povo à mercê  do até vazio na mesa. 

Para Hannah Arendt,  uma das mais importantes pensadoras do século XX, “certo tipo de fenomenologia da política em termos midiáticos, os escândalos. são classificados em várias categorias, sendo mais frequentes os escândalos por corrupção, suborno, abuso de poder, tráfico de influência, nepotismo, desvio de verbas, fraude, falsificação, compra de votos, contrabando ou descaminho, tráfico ou uso de entorpecentes, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, pornografia, abuso sexual, prostituição, dopagem, racismo, tortura, agressão, espionagem, escuta telefônica, trabalho escravo, aumento de salários de políticos, venda de sentenças, tráfico de armas, venda de cargos. Muitos escândalos abrangem mais de um caráter.”

Entretanto, não incluiu em sua relação, a insigne pensadora alemã, o fenômeno desastroso da mentira contumaz que tem o poder de destacar cada um desse padrão criminoso e jogar contra o adversário destruindo-lhe sua boa reputação.  

Ninguém recompõe sua moral, sua dignidade plenas depois de uma mentira danosa que seja atribuída. 

Não é admissível no mundo do século XXI que o exercício da política seja o cadafalso de lastro nefando para quem cuida ou quer cuidar a coisa pública com obediência aos princípios da administração. 

O que se observa com olhos arregalados é que tais pessoas, serem humanos que são, não se envergonham do traseiro espichado a caminhar com o peso do espiche aos olhos do mundo civilizado. 

E mais grave. Não importa se sua mentira afetará os valores que o humano preserva como bem maior de sua vida calcado na sua dignidade. 

É um trejeito rasteiro de entrar no mundo da delinquência virtual com repercussão real na vida de seus semelhantes. 

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