Turbulência: tudo o que você precisa saber sobre o fenômeno cada vez mais frequente e intenso

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Especialistas ouvidos pelo The New York Times explicam o movimento instável do ar, suas implicações diretas e o que fazer para se proteger em casos mais graves

Inúmeros viajantes já experimentaram a sensação distinta e provocadora de ansiedade de passar por turbulência em voos: olhos bem fechados e mãos presas aos apoios de braço, preparando-se para a montanha-russa que está por vir. Incidentes recentes deixaram dezenas de passageiros feridos. No mês passado, sete passageiros de um voo da Lufthansa foram hospitalizados com ferimentos leves depois que o avião passou por uma forte turbulência ao sobrevoar o Tennessee. Em dezembro, cerca de 24 pessoas, incluindo uma criança, ficaram feridas em um voo da Hawaiian Airlines.

Relatórios recentes levantam questões sobre as turbulências estarem ficando mais frequentes e intensas. Conversamos com alguns especialistas para saber mais sobre o fenômeno climático difícil de prever. Aqui abaixo está o que eles disseram.

O que é turbulência?

A turbulência é o movimento instável do ar causado por mudanças na velocidade e direção do vento, como correntes de jato, tempestades e frentes frias ou quentes. Pode variar em gravidade, causando de mudanças menores a dramáticas na altitude e velocidade do ar.

Esse movimento instável não está apenas associado ao clima ruim, mas também pode ocorrer quando o céu parece calmo — e pode ser invisível tanto para o olho quanto para o radar meteorológico.

Existem quatro classificações para turbulência: leve, moderada, severa e extrema. Em casos de turbulência extrema, os pilotos podem perder o controle do avião e até mesmo danos estruturais à aeronave podem acontecer, segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos.

As turbulências estão aumentando? E, se sim, por quê?

Pesquisas recentes indicam que as turbulências estão aumentando e que essa mudança é desencadeada pelas mudanças climáticas, especificamente pelas emissões elevadas de dióxido de carbono que afetam as correntes de ar.

Paul Williams, professor de ciência atmosférica na Universidade de Reading, na Inglaterra, estuda a turbulência há mais de uma década.

Em sua pesquisa, Williams descobriu que a turbulência de céu claro, que ocorre com mais frequência em grandes altitudes e no inverno, pode triplicar até o final do século. Ele disse que esse tipo de turbulência está aumentando em todo o mundo em todas as altitudes de voo.

Sua pesquisa sugere que podemos encontrar voos mais irregulares nos próximos anos, o que pode resultar em mais ferimentos entre passageiros e tripulantes.

Como a turbulência é monitorada e medida?

Os meteorologistas contam com uma variedade de diferentes algoritmos, satélites e sistemas de radar para produzir previsões de aviação detalhadas para condições como ar frio, velocidade do vento, tempestades e turbulência. Eles sinalizam onde e quando a turbulência pode acontecer. Jennifer Stroozas, meteorologista do Serviço Nacional de Meteorologia, disse que a turbulência é “definitivamente uma das coisas mais difíceis de prever”.

Usando essas previsões, além da orientação dos controladores de tráfego aéreo, os pilotos tentam contornar áreas turbulentas ajustando sua altitude para encontrar a viagem mais “suave”. Isso significa voar mais alto ou mais baixo do que a altitude em que os meteorologistas preveem turbulência e potencialmente queimar mais combustível do que o inicialmente previsto — um esforço que pode ser caro.

Robert Sumwalt, ex-presidente do National Transportation Safety Board, que agora dirige um novo centro de segurança da aviação na Embry-Riddle Aeronautical University, enfatizou que era impossível prevenir ou prever todas as turbulências.

— Sempre existe a possibilidade de um vento inesperado inesperado. Geralmente não vai te machucar e não vai arrancar as asas do avião — disse Sumwalt.

A turbulência também representa uma ameaça maior para pequenos aviões que são mais suscetíveis a mudanças na velocidade do vento, em vez de aviões comerciais maiores, disse Jennifer, do Serviço Nacional de Meteorologia.

É tão perigoso? Como posso me manter seguro durante a turbulência?

Os aviões são projetados para resistir a condições adversas e é raro que as aeronaves sofram danos estruturais devido à turbulência. O fenômeno, no entanto, pode lançar passageiros e tripulantes, potencialmente causando ferimentos graves. Vários especialistas enfatizaram que ficar sentado e usar o cinto de segurança o máximo possível durante os voos são as melhores maneiras de reduzir os riscos.

— Se você ficar preso com o cinto, é muito menos provável que sofra uma lesão — disse Thomas Guinn, professor de ciências aplicadas da aviação na Embry-Riddle Aeronautical University.

Em uma turbulência severa, o movimento vertical do avião excede a atração da gravidade, disse Williams.

— O que isso significa é que, se você não estiver com o cinto de segurança, por definição, você se tornará um projétil, uma catapulta, você se levantará do assento — completou o especialista.

Fatalidades causadas por turbulência, embora extremamente incomuns, acontecem. A última vez que um passageiro em um voo comercial morreu devido a uma lesão relacionada à turbulência foi em 1997, quando um voo da United Airlines de Tóquio a Honolulu experimentou turbulência severa sobre o Oceano Pacífico, de acordo com uma investigação do NTSB. Esta passageira não usava cinto de segurança e voou de seu assento, possivelmente batendo com a cabeça no porta-malas, de acordo com a investigação.

No mês passado, um ex-assessor da Casa Branca a bordo de um jato executivo viajando de New Hampshire para a Virgínia morreu devido a ferimentos fatais inicialmente atribuídos a uma forte turbulência. No entanto, uma investigação preliminar do NTSB descobriu que os pilotos do avião desligaram um interruptor que estabilizava a aeronave, fazendo-a oscilar brevemente no ar.

E os bebês de colo?

Crianças menores de 2 anos podem ser transportadas no colo de um adulto durante os voos, mas muitos especialistas do setor, citando perigos como turbulência, acreditam que essa prática deve ser proibida. No mês passado, a Associação de Comissários de Voo, um sindicato que representa cerca de 50 mil comissários de bordo de 19 companhias aéreas, renovou seu esforço de décadas para que cada passageiro tenha seu próprio assento, independentemente da idade.

Sara Nelson, presidente do sindicato, disse em entrevista que, com a turbulência se tornando “muito mais comum” ultimamente, a necessidade de crianças pequenas serem adequadamente protegidas em assentos de segurança durante os voos é uma prioridade.

— Estamos falando de eventos na cabine que são potencialmente mortais, mas que você sobrevive quando faz as coisas certas para se proteger — disse Sara.

A turbulência inesperada é a principal causa de lesões pediátricas em aviões, de acordo com a FAA, que possui informações detalhadas sobre vários sistemas de retenção infantil e como instalá-los corretamente nos assentos do avião. Alguns desses produtos são compatíveis tanto para carros quanto para aviões.

Durante décadas, a FAA e o NTSB insistem para que os pais protejam as crianças pequenas em seus próprios assentos de segurança aprovados. A Academia Americana de Pediatria também concorda com essa orientação.

Por Christine Chung, The New York Times

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