Este trabalho acerca da memória de Arapiraca visa oferecer conhecimento do nascimento, crescimento e desenvolvimento desta terra, antes um planalto e hoje o maior município do Estado, que completará logo, logo cem anos de emancipação política (2024). Seus filhos, naturais e adotivos, continuam elevando a terra conhecida como de Manoel André, fundador e primeiro a acreditar em sua pujança. Foram compilados trabalhos e pesquisas de historiadores e estudiosos do município, como Valdemar Oliveira de Macedo e Zezito Guedes, entre outros, conhecedores profundos do povo e das terras desta parte de Alagoas.
Nesta edição, apresentamos a Emancipação Política de Arapiraca, a luta de Esperidião Rodrigues, o elogio de Monsenhor Macedo (quando padre) ao emancipador, foto do maior prédio de Arapiraca, datado de 1936, os prefeitos eleitos e os interventores do município.
A Emancipação política
É necessário frisar que, antes de se tornar município, Arapiraca tornou-se distrito em 1892, com cartório de registro civil (para registros de nascimento, casamentos civis, certidões de óbitos) e uma subdelegacia de polícia. Tudo isto ocorreu logo após a Proclamação da República, com a nova Constituição do Brasil, de 1891. O distrito de Arapiraca teve como seu primeiro Juiz de Paz José Francisco da Silva Góes, que também ocupou o cargo de subdelegado de polícia, e como escrivão do Registro Civil Manoel Apolinário da Silva (neto de Manoel André Correia dos Santos).
A Emancipação Política de Arapiraca deu-se, entretanto, em 30 de maio de 1924, com o governador Fernandes Lima sancionando a Lei no. 1009/1924 (a publicação da lei deu-se no Diário Oficial de 31/5/1924, primeira página). Essa emancipação, porém, somente é comemorada todo ano no dia 30 de outubro, quando da posse da primeira Junta Governativa, nomeado que foi pelo governador Costa Rego, através de Ato publicado no Diário Oficial de 18 de outubro, página 2.
Como a lei que criou o município de Arapiraca não era auto regulamentável, necessário houve que o governo de Alagoas (já com Costa Rego como governador), considerando que a Lei no. 1009/1924 “não determina quais os poderes competentes para apurarem as eleições, expedirem diplomas, reconhecerem e empossarem os membros da administração municipal; considerando mais que o município, uma vez criado, não poderá ficar privado de sua administração própria; e, considerando, finalmente, que a Constituição e as leis estaduais não regulam a espécie e, de acordo com o número 2 do art. 50 da mesma Constituição, compete ao Governador expedir decretos, regulamentos e instruções para fiel execução das leis, Decreta: “(Decreto no. 1078, de 17 de maio de 1924, DO 18/5/24, p. 2).
Foi, então, regulamentada a lei criadora do município de Arapiraca. No mesmo diário oficial, o governador nomeia a primeira Junta Governativa de Arapiraca.
Eis o Ato governamental: Ipsis Litteris;
“O Exmo. Snr. Governador do Estado, por actos de hontem, e de acordo com o art. 1o. do Decreto n. 1078, de hontem mesmo datado, nomeou os cidadãos Domingos Rodrigues, Olegário Cavalcante, Francisco Magalhães, Aprigio Jacintho, Antonio Appollinario, Antonio Ribeiro, Pedro Lima, José Pereira Sobrinho, Tiburcio Valeriano e Cicero Gonzaga, membros da Junta Governativa do Municipio de Arapiraca, creado pela Lei n. 1009, de 30 de maio do corrente anno” (escrito conforme o original).
O telegrama enviado:
Assim que sancionou a lei, o governador Fernandes Lima encaminhou telegrama a Esperidião Rodrigues, nos seguintes termos:
Cel. Esperidião Rodrigues da Silva
Arapiraca Limoeiro
Acabo sancionar Projeto Lei criando município de Arapiraca, com cuja população laboriosa, adiantada e progressista me congratulo por intermédio amigo, grande incansável paladino dessa conquista que representa ato de justiça aos poderes públicos e a um povo que se levanta por si próprio, que tem iniciativa e que progride.
Telegrama
Cordiais Saudações
Ass. Fernandes Lima- Governador do Estado.
O telegrama é datado de 30 de maio de 1924.
Apesar de não fazer parte da primeira Junta Governativa, Esperidião Rodrigues foi, sem sombra de dúvidas, o principal baluarte na luta pela emancipação de Arapiraca. Nascido no povoado de Cacimbinhas, em 16 de julho de 1858, era filho de José Veríssimo dos Santos/Ana Maria da Silva Valente, portanto, sobrinho do fundador Manoel André Correia dos Santos. Foi, durante os 85 anos de vida, casado três vezes: primeira vez com Joana Belarmina de Macedo, em 1875; a segunda, com Balbina Farias de Melo, em 1897; a terceira, com Maria Rodrigues, em 1936.
Esperidião Rodrigues, a maior liderança pela emancipação política de Arapiraca, foi morador inicialmente onde hoje é o bairro de Cacimbas, tendo também foi comerciante. Fundou, em 1888, “a feira de Arapiraca; em 1892, foi escolhido presidente do Conselho da Vila de Limoeiro; neste mesmo ano, conseguiu do governo do Estado de Alagoas a criação do Cartório do Registro Civil e de Óbitos, além de uma agência dos Correios para o povoado; fundou, também, a Sociedade Musical “União Arapiraquense”.
“Em 1915 foi nomeado pelo governador, Cel. Clodoaldo da Fonseca, Intendente da Vila de Limoeiro de Anadia, onde permaneceu até 1918; Foi convocado, em 1924, para liderar a luta pela emancipação política de Arapiraca. Sua luta maior foi com o Secretário da Fazenda de Alagoas, Castro de Azevedo, que era tenazmente contra a emancipação”.
Cronologia depois da Emancipação
17/10/1924 – O jornalista Pedro da Costa Rego nomeia a primeira Junta Governativa de Arapiraca;
07/01/1925 – Leitura do termo de posse pelo juiz Dr. Medeiros, da cidade de Palmeira dos Índios (para onde passou o Distrito de Arapiraca);
07/01/1925 – Esperidião Rodrigues é eleito prefeito da Vila Arapiraca, tendo como vice José Zeferino de Magalhães; governaram até 08/01/ 1928;
Em 1930 – Esperidião Rodrigues é reeleito prefeito de Arapiraca tendo como vice Antônio Romualdo: governaram até 1932.
Esperidião Rodrigues da Silva (1858/1943)
Nasceu em Cacimbinhas, em 1858, e, com seis meses de idade, veio para Arapiraca junto com seu pai, José Veríssimo Nunes dos Santos, indo morar na localidade conhecida como “Cacimbas”. Em 1880, torna-se o primeiro comerciante do povoado de Arapiraca, criando, logo após, a feira da localidade. Em 1892, foi escolhido Presidente do Conselho da Vila de Limoeiro. Neste mesmo ano conseguiu do governo a criação de uma escola para o povoado, como também a criação do Cartório do Registro Civil, para casamento, nascimento e óbitos e uma agência dos correios.
Casou-se duas vezes. Com a primeira mulher, Joana Belarmina Ferreira de Macedo, teve sete filhos, a saber: Antônio Rodrigues Macedo, casado com Luzia Barbosa de Macedo; Lino Rodrigues de Macedo, casado com Francisca Pereira de Magalhães; Domingos Rodrigues de Macedo, casado com Josefa Augusto Ferreira de Macedo; André Rodrigues de Macedo, casado com Marieta Peixoto; Serapião Rodrigues de Macedo, pai do professor Sylvio de Macedo, e casado com Áurea Guedes; Júlio Rodrigues de Macedo, solteiro, e Cecília Rodrigues de Macedo, solteira. Com a segunda mulher, Balbina Farias de Melo, teve os seguintes filhos: Amália Rodrigues de Melo, casada com Rozendo Leandro da Silva; Genésio Rodrigues da Silva, casado com Joana Lúcio Correia; Virgílio Rodrigues da Silva, casado com Eulina Ferreira de Brito; Gundialves Rodrigues da Silva, casado com Marinete Lúcio da Silva; Marieta Rodrigues Cavalcante, casada com Antônio Olimpão Cavalcante; Juvêncio Rodrigues Melo, solteiro; Rosa Rodrigues de Melo, solteira; José Rodrigues de Melo, solteiro.
Em 1908, funda, no Povoado de Arapiraca, uma sociedade musical denominada: “União Arapiraquense”, cujo instrumentos musicais foram adquiridos em Paris. Em 1915, o governador, Cel. Clodoaldo da Fonseca, nomeia-o Intendente da Vila de Limoeiro de Anadia, até 1918. No fim de 1918, desgostoso com a política, vende suas propriedades, reúne os filhos e vai fixar residência no povoado da Igreja Nova (que era conhecido como Triumpho).
No livro TERRA DAS ALAGOAS (autores: Adalberto Marroquim, Diegues Junior, Moreira e Silva), editado em Roma, em 1922, Esperidião Rodrigues é citado como um dos principais comerciantes de fazendas, miudezas, ferragens e chapéus em Triumpho (hoje Igreja Nova).
A citação está na página 176 do citado livro, juntamente com outros comerciantes: Pedro Falcão, Severo Campos, João Campos Machado, Euthimio Queiroz, Sizino Borges, Januário José de Lira (pai de Geraldo Lira e avô de Manoel Ferreira Lira), além de Octavio Cavalcante, H. Sampaio, Manoel Leandro de Lira (pai de Ernesto Leandro de Lira), João José de Farias, Antônio Campos e Rozendo Borges.
Em abril de 1924, chega a Lagoa Comprida seu sobrinho, Domingos Lúcio da Silva, com uma missiva, a qual pedia sua presença para liderar os rumos da Emancipação do Povoado de Arapiraca da Vila de Limoeiro de Anadia.
Depois de muita luta, os arapiraquenses conseguiram a emancipação política do distrito do município de Limoeiro, através da Lei nº 1.009, publicada no Diário Oficial do Estado em 31 de maio de 1924.
Logo depois, o distrito judiciário de Arapiraca passa para a comarca de Palmeira dos Índios, e é o juiz daquele município que marca a data das primeiras eleições (antes, nomeia a junta governativa, que teve como presidente Francisco de Paula Magalhães). Governou até 1927.
A eleição do primeiro prefeito de Arapiraca ocorreu em 30/11/1924, saindo vencedor Esperidião Rodrigues da Silva, tendo como vice-prefeito José Zeferino de Magalhães e o Conselho Municipal (hoje Câmara Municipal), ficou assim constituído: Pedro Leão da Silva (presidente), Pedro Gama da Silva, Manoel Pereira Correia, Manoel Lúcio Correia e Rosendo Leite da Silva.
Reuniões administrativas: as primeiras foram realizadas nas dependências do Hotel Estrela, que ficava na rua Nova (hoje praça Marques da Silva), depois em prédio próprio, situado onde até pouco tempo era a câmara de vereadores do município (avenida Rio Branco, 104).
Com eleição municipal em 30/9/1930, Esperidião Rodrigues da Silva foi eleito, mais uma vez, prefeito, tendo como vice Antônio Romualdo da Silva, e governaram Arapiraca até 26/7/1932. Foi a época da Revolução de 30.
Fonte: Eli Mário Magalhães e Manoel Lira
Produção Editorial: Roberto Baía e Carlo Bandeira