A vida foi curta para Marcos Valença da Silva. De São José da Laje, onde nasceu em 1960 (filho de Zanuel Correia Silva e Ieda Valença Silva) a 2012, em Arapiraca, cultuou uma vida paralela (além de empresário no ramo de fogos, era comerciante de fumo para firmas exportadoras como a ex-Tabacalera do Brasil), tinha o hábito de comprar, de pedir, ou negociar coisas antigas. E, de peça em peça, foi formando um arquivo pessoal, distribuído por todos os cantos de sua residência.
Para ele, aquelas antiguidades eram uma alegria só.
Mas, que antiguidades são estas?
Os amigos do Marcos, em visitas, podiam ver e deliciar-se com um gramofone (RCA Victor – a voz do dono) do início da “Era do Rádio” (invenção alemã do século XIX, que transmitia sons gravados por uma agulha em vibração num disco plano); ou com punhal dos tempos de Lampião (Virgulino Ferreira). Tinha e tem ainda hoje de tudo: um ferro de engomar que era esquentado por carvão; diversos rádios, inclusive um rádio phillips valvulado olho mágico (dos anos 50).
Nas antiguidades de Marcos Valença, hoje sob a guarda de sua esposa Lourdênia Matos Valença e seus filhos Ana Paula, Rafael e Vanessa, os amigos da família podem apreciar uma bíblia católica dos anos 70 (edição de setembro de 1977, com tradução da Vulgata pelo padre Matos Soares, com revisão de Dom Mateus Rocha, osb)), móveis antigos que pertenceram ao ex-deputado e ex-vereador por Arapiraca Alonso de Abreu Pereira (até a cadeira onde, infelizmente, tirou a vida!).
As peças antigas são diversas, sem catalogação, mas espelham uma vontade férrea que Marcos Valença tinha, instintivamente, na preservação da história, guardando-as como memória viva de um povo (ele era um apaixonado por histórias sobre Virgulino Ferreira. No pequeno museu há 11 livros que contam a vida e a morte de Lampião, inclusive um escrito por sua neta, Vera Ferreira).
Que tal um oratório do século XIX? Ou um conjunto de talheres de prata do século passado?
A alegria de Marcos Valença em possuir um verdadeiro museu, na época com as peças distribuídas aleatoriamente por toda casa, está se consolidando com a colocação destas memórias vivas em local apropriado na nova residência da família. Segundo a viúva Lourdênia, ainda há muito a fazer: será um pequeno museu, com as memórias de um povo e de um abnegado pela história.
Aliás, o município de Arapiraca, às vésperas de completar 100 anos de emancipação, não possui um museu que preserve sua história, sua tradição ou mesmo a evolução de seu povo. Somente a família de Marcos Valença, ou o deputado estadual Ricardo Nezinho (com suas Raízes de Arapiraca) “dão” o valor devido às memórias de seu povo. É uma pena!
Fonte: Jornal de Arapiraca
Manoel Lira, Eli Mário e Roberto Baía