Obrigado à vida

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Na madrugada do dia 11/01/2024, acordado e insone, ouvia a rádio Gaúcha. No programa Gaúcha Hoje, o radialista Antônio Carlos Macedo, entre umas e outras notícias, desfilava músicas que diziam do agradecimento à vida, como a memorável Ao Mestre com Carinho (To Sir With Love), de Lulu, que diz:
“Foi com você
Que eu aprendi
A repartir tesouros”
E
“Foi com você
“Que eu aprendi
“A respeitar os outros”
E, mais:
“Legal ter você aqui
“Um amigo em que eu posso acreditar
“Queria tanto o abraçar”
E, muito obrigado, de Djavan, que exprime em uma de suas estrofes:
“Tudo isso é uma questão de saber
“Saber viver
“Tudo isso é uma questão de amar
“Pra entender
“Tudo isso é uma questão de querer
“Reconhecer
“Que quem sabe tudo
“Nada há de ser, nesse compasso
“Há espaço pra quem quiser viver”.
Dizia o radialista gaúcho que o dia 11 daquele mês e ano (e de todos os anos) era para se agradecer a vida, agradecer a todos aqueles que fazem parte da vida das pessoas, de demonstrar pelo menos em gesto o agradecimento. Por isso mesmo, o dia 11 de janeiro é internacionalmente denominado de Dia do obrigado.
Mas, vale a pena agradecer à vida?
A reflexão deve ser de cada um.
Entre inúmeras definições, acredito ser esta uma que mais me diz: “Vida é o estado de atividade incessante comum aos seres organizados. É o período que decorre entre o nascimento e a morte. Por extensão vida é o tempo de existência ou funcionamento de alguma coisa”.
Vim à vida no antigo Mocambo, hoje Feira Grande, quinto entre oito irmãos. Aos oito anos, acreditei piamente que carrapateira (pé de mamona) era forte suficiente para me aguentar: quebrei o braço esquerdo e, cuidado por um pseudo farmacêutico, tive isquemia de Falkner na linguagem médica. Aos 22 anos, estudante de jornalismo na Universidade Federal da Bahia, fui levado ao hospital de pronto socorro para uma cirurgia urgente de retirada do apêndice, que estava estrangulando. Em 10 de outubro de 1989, internado na Santa Casa de Misericórdia, fui submetido a cirurgia do coração, com colocação de pontes de safena e mamária.
Em 1997, já com dois stents (um pequeno tubo que é colocado dentro da artéria para abri-la e evitar novo entupimento, sendo indicado nos casos de doença coronariana), sofri um AVC isquêmico. Depois, veio, em 2013, um infarto agudo do miocárdio, quando transitava por São Paulo vindo de Buenos Aires.
Hoje, setenta e oito anos de vida, ou sobrevida, neste dia do agradecimento só me resta dar obrigado à vida. Obrigado pelos pais, a origem de tudo; obrigado pelos irmãos, pela mulher que me segue por 51 anos; obrigado por três filhos e quatro netos.
A vida, que se contrapõe à morte, continua muita mais forte que aquela. Na sua luta diária por me manter aqui, as vitórias são quase diárias.
Ninguém precisa alertar que um dia qualquer ela me deixará. Não por perder a luta com a morte, mas porque este é o sentido de tudo: nascer, viver e morrer. Porém, enquanto este fato não ocorrer, tenho sempre de agradecer à vida, que é bela.
Obrigado à vida!

Por Manoel Ferreira Lira
morrosanto@gmail.com.br

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