Um alemão no agreste alagoano
Manoel Ferreira Lira
Eli Mário Magalhães
Roberto Baía
robertobaia9981@gmail.com
Ele chegou a Arapiraca, de Salvador, para trabalhar na compra de fumo exportável para a Europa.
Nascido em 1934, em plena Alemanha governada pelo ditador Hitler, órfão de mãe, chegou ao Brasil em 1948, indo morar em São Félix, interior baiano. Em 1955, ficou também órfão de pai, Johann Heinrich Schinke. Nesta época, já trabalhava na empresa Suerdieck. Estudava e trabalhava, morando no casarão de São Félix, deixado por seu pai.
Com a idade de 21 anos, estudado, a empresa de fumo para exportação e charuto confiou a ele a missão de desbravar seu comércio em Alagoas, mais precisamente em Arapiraca. Aqui Carlos Schinke, com seu conhecimento técnico e comercial e, segundo muitos, com “ótimo tino administrativo.”
Surgiu a Suerdieck em Arapiraca, grande compradora de folha de fumo, e construtora de grandes galpões para abrigar a safra de fumo. Outras empresas sediadas na Bahia, seguindo o caminho da Suerdieck, chegaram a Arapiraca. Daí, “houve uma verdadeira reforma agrária natural, contribuindo bastante com o desenvolvimento de minifúndios e, consequentemente, expansão e diversificação, favorecendo o crescimento do povo da cidade de modo generalizado”. Carlos Schinke participou ativamente deste crescimento.
Segundo uma das filhas do alemão (como carinhosamente era conhecido) “a Suerdieck e outras empresas que aqui se instalaram precisavam dos fumos claros, apropriados para capas de charutos mais refinados, mais selecionados e destinados à exportação. Papai conhecia toda região fumageira, visitava na entressafra cada propriedade trazia dicas e técnicas que iam desde a preparação da terra, plantio e manuseio desse tipo de folha e como era profundo conhecedor negociava a safra de modo a atender a demanda daquele público exigente sempre com antecedência” (Ericka Schinke).
Disse mais: “Como era uma empresa sazonal, havia a equipe permanente do escritório, bastante enxuta, e na época da safra, fazia-se contratação em massa, tudo era armazenado nos galpões da filial, que ficavam localizados no bairro de Guaribas, até ser feito o enfardamento que saía em comboio para a Bahia. A cidade fervilhava, aquecia o comércio local e, principalmente, nos dias de feira, se fechavam-se grandes negócios”.
A vida do alemão/arapiraquense Carlos Rolf Schinke não se restringiu a mero representante de empresa de fumo. Participou ativamente da vida social de Arapiraca: casou-se com Marlene Rodrigues de Oliveira (teve como padrinho de casamento o empresário Valdomiro Barbosa) e teve as filhas Ericka Schinke, Helga Schinke Rosana Schinke, Inge Schinke e o filho Carlos Henrique Schinke; foi sócio proprietário (desde fevereiro de 1968) do título nº 35 do Clube dos Fumicultores; fundou com outros irmãos a Loja Maçônica Perfeita União, em 29 de outubro de 1969; foi um dos fundadores do Rotary Clube de Arapiraca, em 1967.
O alemão/arapiraquense ou o arapiraquense/alemão era desprovido de preconceito. Em tempos difíceis, onde a homofobia grassava, Carlos Schinke se orgulhava de suas amizades: Sr. Barrocas, um negro, cego de um olho, mas figura meiga; ou, Edivaldo, que depois se transformou em Raquel, um travesti que ajudou a criar.
Carlos Schinke morreu em 1972, em 04 de junho.