*Manoel Ferreira Lira
A confissão é um ato para “curar a alma,” disse o Papa Francisco.
O artigo “Mamãe, por que você tá azul?”, publicado na edição nº 21 do JORNAL DO INTERIOR, assinado por Lúcia Barbosa, mestra em Gestão Pública, me fez trazer ao presente minhas reminiscências dos tempos de aluno e, depois, professor de História do antigo Ginásio Nossa Senhora do Bom Conselho.
Explico: nos intervalos das aulas, nós professores, entre 15 e 15,30 horas, nos reuníamos em uma sala que abrigava também uma pequena biblioteca. Um dia, simplesmente um dia, surgiu uma conversa sobre o ato religioso de confessar, entre eu e o padre Antônio Lima Neto.
– Manoel, você se confessa regularmente? A pergunta foi do professor e sacerdote.
– Não! A resposta foi seca.
Padre Antônio arregalou os olhos e mirou-me no fundo da alma. Sem dizer nada. Senti-me obrigado a explicar.
– A última vez que me ajoelhei num confessionário foi quando ainda era estudante ginasial, lá na matriz. O sacerdote era o senhor. Ajoelhei-me, fiz o sinal da cruz e disse que tinha pecado. Daí, ouvi uma voz (era do senhor) dizendo: “Manoel, diga seus pecados, todos, e se está arrependido!”.
E assim fiz.
Quando saí, disse a mim mesmo: nunca mais voltaria a me confessar a um padre. Isto porque simplesmente fui identificado. Eu era um jovem estudante querendo se arrepender dos pecados, e arrependido certamente estava, esperando a palavra do perdão. Porém, o que encontrei foi um sacerdote que me conhecia (era meu professor de Latim) e agiu como tal.
Explico: ao me identificar, agiu como professor; ao ouvir meus pecados, agiu como sacerdote.
– A partir daí, padre Antônio, quando quero me confessar (e muitas vezes preciso), realizo o ato sozinho e direto ao Senhor Cristo, ou a minha madrinha de batismo, Nossa Senhora da Conceição. Sem intermediário.
Padre Antônio Lima olhou-me fixamente e disse:
– É, Manoel, o que vale mesmo é o ato de se confessar ao Senhor Deus, contrito, pedindo perdão dos atos e omissões. Nós somos somente intermediários.
E nada mais disse. Nem foi preciso.
Acrescento, aqui agora, as palavras do Papa Francisco: “Quando me confesso, é para me curar, para curar minha alma”.
Mas, voltemos aos nossos dias.
A articulista Lúcia Barbosa, transbordando de memória dos trágicos tempos da ditadura, faz como que uma confissão. Não a um ser espiritual, mas aos seus leitores, por não ter estado presente àqueles fatos citados, com suas personagens. Ela como que se arrependesse da ausência, confessando não ter corrido riscos, não ter desafiado a morte.
A confissão não é tão somente pedir perdão de atos cometidos, mas, também, de não os tê-los cometidos.
Escrever é um ato de confissão.