O incentivo à leitura foi tema do novo artigo do deputado federal Daniel Barbosa, que deu protagonismo ao trabalho desenvolvido em Arapiraca, através das Arapiraquinhas, bibliotecas digitais espalhadas pelos bairros e comunidades da Capital do Agreste.
Em seu texto, o parlamentar percorre a evolução das bibliotecas públicas no Brasil, desde as missões religiosas até a criação da Política Nacional de Leitura e Escrita, enfatizando o papel transformador da educação e o pioneirismo de Arapiraca no ensino integral.
Confira o texto na íntegra:
SOCIALIZAÇÃO DO SABER
As grandes civilizações datam de seis mil anos e têm como marco inicial a primeira forma de escrita, a urbanização e a agricultura irrigada, na Mesopotâmia. É o divisor entre a pré-história e a Idade Antiga, que vai até a derrocada do Império Romano do Ocidente, por volta de 450 da Era Cristã. Nesse período, surgiram e se desenvolveram o Egito, a Grécia, a Pérsia e Roma, além dos hebreus, fenícios e celtas, para citar apenas algumas sociedades humanas que deixaram legados importantes.
No ritmo da escrita e do processo civilizatório surgiu o livro, que ao longo do tempo difundiu conhecimentos, impulsionou a criatividade e se consolidou como agente primordial do progresso intelectual, cultural e social da humanidade. As obras literárias, científicas e filosóficas motivam reflexões, estimulam o raciocínio e ajudam a formar juízo crítico, inspirando mudanças culturais, políticas e sociais.
Anísio Teixeira, o grande educador brasileiro, considerava que a educação plena dependia da leitura constante e crítica dos livros. Tinha inteira razão, porque o livro se revelou uma das grandes invenções do gênero humano, fornecendo atributos para educar e aprimorar intelectualmente as pessoas, partindo da alfabetização até as universidades. O hábito de ler só traz benefícios e precisa ser incentivado, desde a infância, de maneira agradável.
Os primeiros exemplares desembarcaram no Brasil com as missões religiosas, por volta de 1540. No entanto, as bibliotecas do período colonial, denominadas livrarias, eram ambientes fechados nos colégios jesuítas e beneditinos. As tipografias chegaram ao país com a família real, em 1808. Curiosamente, a biblioteca pública brasileira teve origem privada. Patrocinada por Pedro Romão Castelo Branco, foi inaugurada na capital baiana, Salvador, no ano de 1811, com fins educativos e acessível ao povo.
Praticamente ignoradas até 1935, dois acontecimentos importantes deram merecido destaque às bibliotecas públicas brasileiras. Refiro-me à criação do Departamento de Cultura de São Paulo e do Instituto Nacional do Livro. Após essas iniciativas, surgiram as políticas públicas de cultura e educação. O escritor modernista Mário de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura de São Paulo, implantou o Ônibus Biblioteca, uma espécie de livraria portátil que circulava pelos bairros paulistanos transportando e distribuindo conhecimento.
Mais tarde, a fundação do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas teve importância na democratização da leitura, embora desde o início enfrentasse falta de estrutura e de recursos financeiros. Aí sobreveio a Lei nº 13.698/2018, que em boa hora instituiu a Política Nacional de Leitura e Escrita, estabelecendo como diretriz a universalização do direito ao acesso ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas.
Sem dúvida, é o modo mais eficaz de aprendizado. Os livros devem ser acessíveis a todos, especialmente porque, quando estão disponibilizados em espaços democráticos, disseminam cultura e informação aos grupos mais vulneráveis, viabilizam o bom entrosamento entre as pessoas e contribuem fortemente para a inclusão social e o combate às desigualdades.
No mês de janeiro deste ano, o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas divulgou um estudo versando sobre o valor social dessas estantes de livros abertas a todos, na perspectiva do alinhamento da gestão com as tendências mundiais e o que existe de mais moderno na América Latina.
Sob esse prisma está um dos maiores orgulhos da minha cidade, Arapiraca, onde em 2012, no segundo mandato do prefeito Luciano Barbosa, foram criadas, construídas, implantadas e valorizadas as bibliotecas públicas de bairro, chamadas carinhosamente de Arapiraquinhas. São anexos das unidades da rede pública municipal de ensino que, distribuídos pela Capital do Agreste alagoano, têm um acervo de mais de três mil livros, bebeteca e incluem salas de informática e leitura.
As Arapiraquinhas colaboram para o desenvolvimento da linguagem e servem de apoio às atividades educacionais, sociais e culturais da população. Nelas, a criançada entra no mundo da imaginação. Além disso, proporcionam acesso à informação através da internet, geram conhecimento para jovens e adultos e estimulam a leitura e a escrita adotando práticas lúdicas e pedagógicas. Mesmo durante as férias escolares, suas estruturas têm sido utilizadas para brincadeiras, diversões, oficinas de arte e piqueniques literários.
As nossas bibliotecas públicas de bairro atuam como fator de inserção social. Isso só acontece pelo trabalho competente e dedicado de uma equipe de servidores municipais e gestores totalmente envolvida com o projeto. Depois de mais de um ano fechados por força da epidemia de Covid-19, esses equipamentos do saber foram reativados em agosto de 2021 para uso presencial e seguem beneficiando a comunidade arapiraquense.
Num país marcado pelas desigualdades sociais, é indispensável apoiar e incentivar os projetos de inclusão social, especialmente por meio da educação, que constitui instrumento transformador do indivíduo e da sociedade. Por isso, é fundamental construir, recuperar e equipar escolas, apostando no ensino integral como formador da cidadania.
Neste ponto, registro o recente trabalho da Consultoria da Câmara dos Deputados mostrando as vantagens da escola em tempo Integral, que apresenta os melhores resultados na educação infantil. Por sua vez, os estudantes do tempo integral dobram a capacidade de aprendizado em comparação com o parcial e na vida adulta obtêm melhores empregos e remuneração. Nessa modalidade, Arapiraca é pioneira e referência nacional.
É importante compreender que ensino integral não se confunde com escola em tempo integral, pois ultrapassa o contexto acadêmico. Ambos são relevantes, porém o ensino integral é mais completo, porquanto abrange todas as dimensões do desenvolvimento humano. Além do aspecto intelectual, trabalha os campos emocional, físico, ético, cultural e social do estudante.
A educação é emancipadora e não deve ser privilégio de poucos. Ao poder público cumpre assegurar aos estudantes da instrução básica a formação indispensável ao exercício da cidadania e os meios necessários para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Estou convencido de que derrotar as desigualdades sociais por meio da boa educação é o melhor caminho, porque seus resultados são perenes e se multiplicam naturalmente.
Por Assessoria