Palestra sobre Francisco Julião resgata legado da reforma agrária e provoca reflexão sobre o papel da esquerda

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Evento no PDT-AL, em Maceió, reuniu militantes, intelectuais e novos filiados em torno da trajetória de Julião, Jayme Miranda e das urgências políticas do presente

Na última sexta-feira (31), o PDT de Maceió promoveu uma palestra sobre a trajetória e o pensamento de Francisco Julião, um dos maiores símbolos da luta pela reforma agrária no Brasil. Conduzido por Henrique Matthiesen, coordenador do Centro de Memória Trabalhista, o encontro transformou-se em um momento de evocação política, memória ativa e convocação ética aos militantes presentes.

Mais do que um resgate histórico, o evento foi um chamado direto: para a reorganização das bases, a valorização da militância ativa e a retomada do espírito revolucionário que marca a história da esquerda brasileira.

Francisco Julião e a permanência das ideias que nascem do chão

Francisco Julião, advogado e deputado federal pelo antigo PSB, liderou a formação das Ligas Camponesas nos anos 1950 e 60, mobilizando trabalhadores rurais em defesa da reforma agrária. Preso após o golpe de 1964 e exilado no México, Julião tornou-se símbolo da resistência popular e das ideias que, mesmo reprimidas, sobreviveram ao tempo e à perseguição.

Durante a palestra, Matthiesen destacou que ideias como as de Julião não pertencem apenas ao passado: “Existem vidas que não cabem em um só tempo, nem em um só corpo. Há ideias que permanecem como sementes de revolução.”

Segundo ele, partidos de esquerda não foram feitos para se acomodar, mas para incomodar — e essa inquietação deve ser o motor da ação política no presente.

Presenças marcantes e filiações simbólicas

Entre os presentes estavam Olga Miranda, filha do advogado e jornalista Jayme Amorim de Miranda, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), sequestrado e morto pela ditadura militar em 1975; Moacir Rocha, do Comitê da Verdade, Memória e Justiça; Alex NSC, rapper e influenciador que tem usado sua arte como instrumento de denúncia e consciência social; além de Nelson Tenório, vice-presidente estadual do PDT-AL, Fernando Antônio, coordenador dos núcleos de base do partido, e Ricardo Nazário, representante do recém-formado Movimento Sindicalista.

A participação de Henrique Matthiesen, com sua fala incisiva e pedagógica, reforçou o papel do Centro de Memória Trabalhista na articulação entre passado e presente, convocando as novas gerações a assumir protagonismo real nos rumos da política nacional.

Um dos momentos simbólicos da noite foi a filiação de Tawan Lucas e João Victor, que, embalados pelo discurso e pela atmosfera de pertencimento, decidiram se integrar ao partido ali mesmo, como gesto de engajamento com um projeto maior de transformação.

Ronaldo Lessa e a centralidade da base

Embora ausente fisicamente por motivos de saúde, o nome de Ronaldo Lessa — ex-governador de Alagoas e liderança histórica do PDT — pairou no ambiente. Como destacou um dos participantes, “Ronaldo nunca perdeu a capacidade de se indignar”, e essa energia é o que ainda mantém acesa a chama de uma política voltada para o povo.

Sua visão estratégica de fortalecimento dos movimentos sociais dentro do partido — incluindo núcleos LGBTQIA+, de pessoas com deficiência, povos originários e trabalhadores urbanos e rurais — foi lembrada como referência para o que o PDT precisa continuar sendo: um partido que nasce da base e retorna a ela para se reinventar.

Memória que age, partido que se move

Ao contrário de outras análises centradas em críticas, a atividade se propôs a olhar para frente: apontou a importância da participação efetiva dos militantes em espaços formativos e de debate, e reforçou que trabalhar as bases não é apenas reativar a história do partido — é criar possibilidades reais de aproximação com movimentos populares, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e fortalecer os próprios núcleos que o PDT ajudou a fundar recentemente em Alagoas.

Francisco Julião não foi lembrado por nostalgia. Foi evocado como força viva, como ideia que continua germinando. E cabe à militância regar esse solo — com ação, com coragem, com indignação

POR ASSESSORIA

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