Ufal homenageia liderança indígena com título de Doutor Honoris Causa

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POR REDAÇÃO

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) concederá, pela primeira vez em sua história, o título de Doutor Honoris Causa a um representante indígena. O homenageado é Antônio Celestino da Silva, da etnia Xukuru-Kariri, reconhecido por sua longa trajetória de defesa dos direitos indígenas e sua contribuição à cultura e história do povo originário de Palmeira dos Índios, no Agreste alagoano.

A cerimônia oficial ocorrerá no próximo sábado (31), às 9h30, no Auditório Graciliano Ramos, no Campus do Sertão, em Delmiro Gouveia, e será conduzida pelo reitor da Ufal, Josealdo Tonholo.

A indicação de Antônio Celestino partiu do Conselho do Campus do Sertão e foi aprovada pelo Conselho Universitário (Consuni), instância máxima da universidade. A defesa da proposta foi feita pelo professor José Ivamilson Barbalho, que destacou a vida do homenageado como um exemplo de dedicação à coletividade, com o lema: “Uma vida que se dedica a outras vidas.”

Trajetória marcada por resistência e sabedoria

Antônio Celestino, hoje com 87 anos, nasceu em Palmeira dos Índios, filho do cacique Alfredo Celestino da Silva e de Antônia Raquel da Conceição. Desde cedo trabalhou na agricultura e em outras atividades para ajudar no sustento da família, mas foi através da oralidade e da liderança comunitária que construiu sua trajetória de destaque entre os povos indígenas do Nordeste.

Mesmo sem formação escolar formal, tornou-se referência em assuntos ligados à espiritualidade, à política indígena, à preservação do meio ambiente e à defesa dos direitos humanos. Sua atuação sempre esteve baseada nos valores do coletivo, da justiça e do respeito à ancestralidade.

Celestino teve papel de destaque na fundação da Articulação dos Povos Indígenas do Leste e Nordeste (Apoime), participou ativamente da Assembleia Constituinte de 1988, especialmente na luta pelo artigo 231 da Constituição, que garante os direitos dos povos indígenas. Também foi fundamental na organização das primeiras assembleias de etnias em Alagoas, Sergipe e Pernambuco.

Durante a retomada da terra Mata da Cafurna, em 1979, foi reconhecido como pajé por sua comunidade, tornando-se uma das vozes mais respeitadas na defesa do território, da educação comunitária e da cultura tradicional.

Reconhecimento e legado

Ao longo dos anos, sua liderança recebeu diversas homenagens. Em 1992, foi condecorado com uma medalha de honra pela CNBB, devido à sua atuação em comunidades de base ligadas à ala progressista da Igreja Católica. Também foi reconhecido como Patrimônio Vivo de Alagoas pelo Governo do Estado.

Com forte presença em conselhos de saúde e educação indígena, em níveis estadual e nacional, Celestino também colaborou como palestrante, conselheiro e articulador em diversas ações sociais, sempre em defesa da coletividade.

O documento da Ufal que justificou a concessão do título ressalta que Celestino se tornou uma referência para as novas gerações de seu povo. “Ele é um espelho para lideranças que hoje se formam. Um homem que carrega em si a resistência, a coerência e a ética do bem viver. Com sua sabedoria ancestral, entende que as lutas do passado seguem atuais e que a mudança exige consciência coletiva”, afirma o texto.

Mesmo sem ter frequentado escolas, Antônio Celestino é reconhecido por sua visão ampla, sensível e crítica, atuando como guardião da memória do povo Xukuru-Kariri. Sua voz continua a ecoar em defesa da justiça, da natureza e da dignidade dos povos originários.

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