POR RAFAELA TENÓRIO
Em meio a graves problemas na prestação de serviços públicos, o prefeito de Campo Grande, no Agreste de Alagoas, Téo Higino, sancionou um reajuste salarial significativo para si próprio, o vice-prefeito, secretários e cargos comissionados da administração municipal. A medida, aprovada pela Câmara de Vereadores e publicada no Diário Oficial dos Municípios na última quinta-feira, 21, tem efeito retroativo a 1º de janeiro de 2025, o que aumenta ainda mais o impacto financeiro sobre o orçamento já comprometido do município.
Com o reajuste, o salário do prefeito passou de R$ 15 mil para R$ 18 mil, representando um aumento de 20%. O vice-prefeito teve um acréscimo ainda maior, de 50%, com seus vencimentos passando de R$ 8 mil para R$ 12 mil. Os secretários municipais tiveram o maior percentual de aumento: de R$ 3.200 para R$ 5 mil mensais, uma elevação de 56%. O pacote inclui ainda ajustes para outros cargos de confiança, ampliando a despesa com a folha de pagamento.
A decisão gerou forte repercussão e indignação entre os moradores da cidade, que enfrentam diariamente problemas como falta de médicos nos postos de saúde, escolas em condições precárias e infraestrutura deficiente em diversas áreas. A população reclama do descompasso entre os aumentos salariais da gestão e a situação de abandono dos serviços básicos.
Além do percentual elevado, a retroatividade do reajuste preocupa especialistas em finanças públicas, que alertam para o risco de desequilíbrio no orçamento municipal. O pagamento acumulado desde o início do ano representará uma despesa extraordinária, que poderá comprometer investimentos em setores essenciais como educação, saúde e saneamento.
Até o momento, a prefeitura não divulgou nenhum estudo de impacto financeiro que justifique a concessão dos reajustes, tampouco ofereceu explicações públicas sobre os critérios adotados para determinar os novos valores. Também não foram realizadas audiências públicas ou consultas à população antes da aprovação da medida na Câmara.
Líderes comunitários manifestaram repúdio à decisão. Para eles, a medida representa um desrespeito com os cidadãos que aguardam melhorias e cobram ações efetivas para resolver problemas crônicos. “Enquanto nosso posto de saúde fecha por falta de medicamentos, a prefeitura aumenta os salários dos próprios gestores. É um absurdo”, afirmou Maria das Dores, moradora do bairro Santa Luzia.
A falta de transparência e a ausência de diálogo com a população aumentam o clima de insatisfação e geram desconfiança sobre a gestão municipal. Organizações da sociedade civil planejam apresentar denúncias ao Ministério Público e solicitarão que o Tribunal de Contas do Estado de Alagoas avalie a legalidade e os impactos financeiros da medida.
O caso de Campo Grande reflete uma realidade que tem se repetido em vários municípios brasileiros, onde aumentos expressivos para a cúpula política são aprovados em momentos de crise, sem considerar as reais necessidades da população nem o limite fiscal das prefeituras. A reação da sociedade, entretanto, tem sido crescente, com maior fiscalização e exigência por transparência e responsabilidade na administração pública.
Até o fechamento desta edição, nem o prefeito Teo Higino nem o presidente da Câmara Municipal haviam se manifestado oficialmente sobre as críticas e os questionamentos acerca do reajuste.