Foto: Reprodução
A imprudência na maternidade do Hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca, tem gerado medo e desconfiança entre mães da cidade e de municípios vizinhos, especialmente aquelas que deram à luz no mesmo período em que aconteceu a troca de bebês envolvendo os gêmeos Gabriel e Bernardo. O caso, revelado no último domingo (15) pelo programa “Fantástico”, da TV Globo, não só abalou as famílias diretamente afetadas, como também levantou questionamentos sobre os protocolos de segurança hospitalar.
A história dos gêmeos, trocados na maternidade em fevereiro de 2022 e reunidos dois anos depois por uma descoberta surpreendente, trouxe à tona falhas graves nos procedimentos médicos e alimentou debates sobre identidade, laços familiares e responsabilidade institucional. A comoção nacional e a repercussão nas redes sociais evidenciaram a complexidade do erro, que agora se desenrola também no âmbito judicial.
Descoberta inesperada
Débora e Suelson, agricultores da cidade de São Sebastião, vivenciaram uma gestação difícil. Débora teve complicações no oitavo mês e precisou ser encaminhada ao hospital de Arapiraca, onde Guilherme e Gabriel nasceram prematuros, no dia 21 de fevereiro de 2022. Os bebês precisaram passar alguns dias na UTI neonatal para ganhar peso, e devido às restrições impostas pela pandemia de COVID-19, a mãe não pôde visitá-los diariamente. Foi apenas três semanas depois, no dia 12 de março, que Débora pôde levar os filhos para casa, acreditando que tinha dado à luz a gêmeos bivitelinos, já que o médico não confirmou se eram idênticos.
O erro só foi descoberto dois anos depois, quando Débora viu um vídeo na internet de uma criança chamada Bernardo, filho de Maria Aparecida, moradora de Craíbas, cidade vizinha. O vídeo, compartilhado por uma amiga de Débora, causou surpresa pela impressionante semelhança física entre Bernardo e Gabriel. “Eu fiquei tão atordoada. Postei um vídeo dele na creche rezando e postei um vídeo chorando. ‘Vocês me perguntando se esse menino é o Gabriel, mas não é o Gabriel. Estou emocionada porque o menino é idêntico ao Gabriel’”, disse Débora, em entrevista ao Fantástico.
Após o encontro entre as mães e a realização de exames de DNA, foi descoberto que Bernardo, na verdade, era filho de Débora, e Guilherme, de Maria Aparecida. O resultado dos testes de DNA foi um choque para as duas famílias, que agora lutam por uma solução judicial.
Disputa pela guarda
O caso ganhou contornos jurídicos, com as famílias buscando resolver a questão da guarda das crianças. A família de Débora, através de um advogado, moveu uma ação judicial para recuperar Bernardo, enquanto também busca a permanência de Guilherme, que enfrenta problemas graves de saúde. Na entrevista, Débora relatou que esses meses foram devastadores e que ainda estão tentando entender tudo o que aconteceu e o que é melhor para os dois.
Maria Aparecida, por sua vez, defende que deve permanecer com Bernardo e manter a relação com Guilherme, seu filho biológico, apesar de não tê-lo criado. A Defensoria Pública, que a representa, argumenta que as mães devem ficar com as crianças que saíram com elas da maternidade, mas devem manter contato com os filhos biológicos para preservar os laços familiares. A decisão sobre a guarda das crianças ainda está sendo aguardada pela Justiça, e, enquanto isso, os meninos se revezam em visitas nas casas das duas famílias, a cada 15 dias.
Impacto nas redes sociais
O caso, amplamente repercutido nas redes sociais, gerou uma série de manifestações de apoio e indignação entre os usuários da internet, que se solidarizaram com as famílias e questionaram os procedimentos hospitalares que levaram à troca dos bebês. Muitos expressaram surpresa e tristeza diante do erro, destacando a dor das mães envolvidas e a gravidade da situação.
O descuido do hospital e das autoridades responsáveis também provocou revolta, com diversos comentários apontando a falha nos protocolos de segurança e na identificação dos recém-nascidos. A troca dos bebês levantou vários questionamentos sobre a necessidade de um controle mais rigoroso nos processos hospitalares, para evitar que erros como esse se repitam.
Futuro das crianças
Até que a decisão judicial seja tomada, Débora e Maria Aparecida tentam encontrar uma maneira de lidar com a situação. Ambas estão determinadas a garantir que, independentemente da decisão sobre a guarda, os meninos possam crescer em um ambiente saudável e com o apoio de ambas as famílias. “Eu só quero o melhor para o Bernardo, assim como quero o melhor para o Guilherme”, disse Maria Aparecida, que deseja manter o vínculo com Guilherme, embora ele não seja seu filho biológico.
O desfecho do caso, que envolve questões familiares e jurídicas, segue aguardando uma resolução que traga estabilidade e clareza para todos os envolvidos. Enquanto isso, as famílias aguardam a resposta da Justiça, que determinará o futuro dos meninos e o encaminhamento dessa história.
Em nota, o Hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho prestou esclarecimentos sobre o caso. Confira na íntegra:
“O Hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca, vem a público manifestar-se sobre a veiculação de informações relativas a uma suposta troca de bebês ocorrida em 2022 na maternidade desta instituição.
Desde sua fundação, o Hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho tem como compromisso inalienável a qualidade e segurança dos serviços prestados à comunidade, com especial atenção à maternidade, um setor de extrema sensibilidade e relevância para as famílias que confiam em nosso trabalho.
A respeito dos fatos mencionados, informamos que já há uma investigação criminal em curso, conduzida pela Polícia Civil do Estado de Alagoas.
Ressaltamos que os fatos investigados não ocorreram durante a gestão da atual diretoria do hospital. Estamos colaborando ativamente com as autoridades, fornecendo todas as informações e documentos necessários para o completo esclarecimento dos fatos.
Reiteramos que o Hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho tem total interesse na apuração e elucidação desse caso, reafirmando nosso compromisso com a ética, a transparência e a segurança no atendimento.
Estamos certos de que a investigação em andamento será capaz de trazer a verdade à tona, preservando os direitos das famílias envolvidas e assegurando a integridade dos serviços que prestamos à sociedade.
Seguimos à disposição para colaborar com as autoridades competentes e para quaisquer esclarecimentos adicionais necessários à busca pela verdade.”
Por Manuelly Campos