VOCÊ ACREDITA?!

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Vejo na TV políticos alagoanos gritarem que são os que mais entregaram moradias em Alagoas. Os gritos e o agitar de braços parecem querer impor a crença naquilo que está sendo vociferado. E eu, olhando para o número de pessoas que se encontra em situação de rua em Alagoas, quase 3.000, fico a imaginar como seria bom que essa competição de fato existisse. Não existe! Como disse Belchior ‘o meu delírio é a experiência com coisas reais’ e a realidade é que foram base e trabalharam para a reeleição de Bolsonaro que inviabilizou o maior programa de moradia de interesse social do país – Minha Casa Minha Vida – criado pelo Presidente Lula em 2009.

O Minha Casa Minha Vida foi criado para combater os efeitos recessivos de uma crise econômica que teve origem na crise financeira de 2008 dos Estados Unidos. Assim, o programa além de combater a falta de moradia para a população de baixa renda ainda estimulou a atividade econômica e conteve os efeitos da crise mundial daquele ano. Até 2018 as obras geraram 3,4 milhões de empregos diretos. Foram, em média, 390 mil empregos por ano. O programa gerou R$ 163,4 bilhões de tributos, superando a soma dos subsídios dados num período de nove anos. Mas Jair Bolsonaro não julgou importante manter o Minha Casa Minha Vida e já no orçamento de 2020 inviabilizou a execução das obras. Contra fatos não há argumentos, mesmo aqueles que se deseja impor aos gritos.

De volta à presidência, Lula espera contratar 2 milhões de novas moradias até 2026. Podem participar do programa famílias com renda bruta mensal de até oito mil reais em áreas urbanas e renda anual bruta de até noventa e seis mil reais em áreas rurais. Além de atender aos requisitos de renda, as famílias não podem possuir nenhum imóvel registrado. O Governo Federal dará prioridade para as famílias que recebem até R$ 2.640,00 mensais nas áreas urbanas e para os que têm renda anual de até R$ 31.680,00 nas áreas rurais. Para os moradores das regiões Norte e Nordeste os juros do financiamento não passarão de 4,75% ao ano e os beneficiários do Bolsa Família de todas as regiões não pagarão nada pela sua moradia. O imóvel para este público será 100% gratuito.

Tão pouco convincente quanto os gritos deles seria escrever que ando por Alagoas conhecendo suas mazelas. Mas sei que elas existem e não me furto de ouvir quem as vive. Entretanto, em prejuízo de todas as outras, me concentrei na questão da moradia, em razão da minha pouca crença na tal propaganda partidária veiculada na TV.

No recém inaugurado Parque das Mulheres, uma obra do governo municipal de Maceió, JHC, que fica intransitável para as bicicletas em dias de chuvas dado ao acúmulo das águas na ciclovia, paro para conversar com alguns moradores daquele espaço. Ouço de um casal que sem trabalho não foi possível manter o aluguel e o que restou foi a rua. Mas eles, marido e mulher, ainda têm esperança. Estão pedindo e juntando dinheiro para as passagens que os levarão em busca de um afazer que lhes traga renda em Minas Gerais, onde tem parentes. Todavia, a maioria que lá está já não espera mais nada. Eles, como eu, por diferentes razões, sabem que políticos como estes que bravejam não trabalham em favor daqueles a quem o Estado tem obrigação de proteger. Eles, diferente de mim, não têm como se proteger, embora os gritos já não os assustem, nem os convençam. Deixaram a casa por total falta de condição de permanecer nelas, seja pelo número de pessoas dividindo o pouco espaço, seja pela precariedade estrutural do imóvel, seja pela impossibilidade de pagar o aluguel, é essa a realidade que emudece os gritos.

Alagoas, segundo a Fundação João Pinheiro, precisa construir 128.346 moradias para mudar a realidade de pessoas como estas que encontro quando ando pelo bairro onde moro. Não é um número impossível de se alcançar. Numa boa competição entre os políticos alagoanos em pouco tempo teríamos esse problema resolvido, sem grandes esforços. Sabe por quê? Porque não faltam moradia no nosso estado. Você acredita?!

O mesmo estudo da Fundação João Pinheiro mostra que Alagoas possui 183.610 domicílios vagos e 94.329 de uso ocasional. Então temos 128.346 famílias morando em imóveis precários, ou dividindo o pouco espaço com muitos familiares, ou em situação de rua ao mesmo tempo que 183.610 imóveis não cumprem sua função social. E sabe qual o município que possui a maior taxa de imóveis não ocupados, 59,31%? Se você respondeu a Barra de São Miguel, atualmente governada pelo pai do deputado Arthur Lira, acertou, mas não ria! No lugar de risos, direcione toda sua indignação para a concentração de riquezas que nos obriga a dialogar com a desesperança e nos impede de viver num lugar melhor

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