Braskem: catadores sofrem prejuízos de 70% na renda

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Em reunião com Defensoria, catadores informaram que mineradora também quer acabar com ferro velho existente há mais de 15 anos – Foto: Ascom DPE/AL

Uma comissão formada por catadores de material reciclável e moradores dos Flexais se reuniu, na semana passada, com o coordenador do Núcleo de Proteção Coletiva da Defensoria Pública do Estado de Alagoas, Ricardo Melro, para relatar os estragos causados pela Braskem no trabalho de reciclagem. Eles reclamam do prejuízo em até 70% de suas rendas e de que a mineradora está atuando para fechar com o ferro velho usado pela categoria há mais de 15 anos.

Para o defensor público, a Braskem continua fazendo novas vítimas. “Desta feita, vítimas de forma dupla: a empresa que retirá-los do espaço que usam há uns 15 anos como ferro velho e eles perderam cerca de 70% de suas rendas por causa da expulsão da população das áreas vizinhas. O relato é de cortar os corações das pessoas normais (que não são psicopatas). Essa classe de trabalhadores não pode ser desprezada pela Braskem e precisa de indenização”, informou Melro.

Residente no Flexal há mais de 37 anos, José Wellington da Silva Santos contou que seu meio de subsistência sempre foi o material reciclável. Segundo ele, que possui um ferro velho no bairro há 15 anos, passou a perder material de reciclagem após as mudanças no bairro geradas pela mineradora Braskem. “Nos últimos quatro anos, venho sentindo os danos causados pela Braskem. Como os moradores saíram da região, meu trabalho foi afetado, pois o material vinha dos próprios moradores. Minha renda chegava a R$ 1.300 e, atualmente, não passa dos R$ 600”, explicou.

De acordo com o José Wellington, anteriormente, o trabalho era feito com os próprios moradores da região, exercendo de porta em porta.

“Atitude da mineradora é desumana”, afirma comerciante

O trabalhador José Wellington recorda que a relação com os demais moradores ultrapassava a simples doação de material reciclável, pois ele também recebia alimentos, cestas básicas, dinheiro, bem como doações de roupas e sapatos para família. “Já me acidentei durante o trabalho, precisando ser hospitalizado. Já fui diagnosticado com câncer e os médicos vêm investigando as dores crônicas que sinto na coluna e no joelho. E essas dores só aumentam por conta do deslocamento, a pé, que, por necessidade, preciso fazer por diversos bairros todos os dias. Porque o meu maior medo é sair de casa e não conseguir retornar com alimento para a minha esposa e a minha filha menor”, desabafou.

José Wellington explica que, há dois anos, representantes da Braskem passaram pelo bairro identificando os imóveis e alegando que iriam indenizar a população. “Recebemos o valor de R$ 25 mil. Mas, a quantia jamais conseguirá cobrir todo dano causado pela empresa, pois, até hoje, mesmo recebido o valor, continuo sentindo na pele o dano que segue sendo causado”, informou.

Ele explica que não possui condições financeiras para se mudar do local e refazer sua vida e que não tem outra saída a não ser permanecer no local e aguardar, mesmo sem nenhuma esperança. “Quero muito sair do bairro para um lugar que eu possa viver dignamente junto com a minha família e que a indenização seja paga da forma justa e honesta, pois são anos vivendo e sobrevivendo no referido bairro e, ainda assim, nada conseguirá pagar anos de trabalho digno”, pontuou.

Para o vizinho de José Wellington, o comerciante Valdemir Alves dos Santos, a atitude da Braskem com todos os catadores de recicláveis é desumana, descabida e muito injusta, pois sabe do trabalho duro que desenvolvem. “Toda comunidade vem sendo pressionada por parte da empresa Diagonal, que afirma que a obra de revitalização será executada”, completou.

Por Tribuna Independente

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