*Manoel Ferreira Lira
O escritor Graciliano Ramos, que foi prefeito de Palmeira dos Índios, sem nunca ter sido político.
Meu primeiro contato com o nome de Graciliano Ramos foi em 1965, quando estudava o terceiro ano científico no Colégio Central (antigo Colégio Estadual da Bahia). Numa das aulas, a professora de português, que também era de literatura brasileira, indagou-me a cidade natal do escritor. Prontamente, respondi: Quebrangulo, acentuando bem o gu, isto é, palavra paroxítona. Imediatamente, fui corrigido:
–Não, não é Quebrangulo, mas sim Quebrângulo, palavra proparoxítona, afirmou a professora.
A partir daí, discordamos severamente, inclusive me “afoitei”.
-Professora, sou de Alagoas, conheço Quebrangulo (acentuei bem a palavra), todos falam Quebrangulo no estado. Agora, se a senhora quer mudar, tudo bem!
Resultado: não chegamos a uma conclusão, inclusive meus colegas aliaram-se à professora. Atualmente, depois de ler Estrela Solitária, biografia de Mané Garrincha, excepcionalmente escrita por Ruy Castro (editora Companhia das Letras, 1995), aprendi o significado da palavra. Escreveu ele que os índios fulniôs habitaram uma fazenda que chamavam de Laí-Eefà (quebro e engulo) – “era como entendiam o nome pelo qual os brancos o chamavam: quebrangulo”.
Bem, isto vem a propósito de um texto que, somente agora depois de 59 anos, tomei conhecimento. Foi retirado de uma entrevista que o velho Graça concedeu em 1948. Vamos ao texto:
“Deve-se escrever da mesma maneira que as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois, enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isto é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
“Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”
Sinceramente, sinto muito só ter tido conhecimento destes conceitos agora, já caminhando para o extertor da vida. Não há mais tempo, principalmente para corrigir inúmeros textos, enxugá-los bem, quase triturando-os.
*Jornalista