Ah, os bolsos!

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Tipos de bolsos usados nas roupas de homem e/ou mulher. Era uma necessidade.

Numa das andanças neste início de ano, resolvi comprar umas duas camisas. Foi difícil encontrar o produto com bolsos, principalmente que tivesse um bolso no lado esquerdo, à altura do coração. Todas as camisas que me mostraram vinham sem bolsos, lisas, com tão somente o logo das camisarias. Inquiri os vendedores. “Não, não temos camisas com bolsos. É a moda!”, disseram. 

Eu, das antigas, nos meus 77 anos, senti-me frustrado. 

E passei a lembrar (aliás, nesta idade, o que mais conforta um idoso, é relembrar, trazer de volta o passado): surgiu rapidamente a figura de minha avó, balançando-se numa rede, com um cachimbo nos lábios, encurvada pelos anos. Não me lembro da idade, mas tinha uns 85 ou 90 anos, nesta época. Lembro-me claramente deste quadro, numa casa isolada na região de Burgo (entre Porto Real do Colégio e Igreja Nova).

Minha avó por parte de pai, que toda a família chamava de Monsanta, vestia uma saia larga com rendas, dois bolsos (ou bolsões?), onde sempre colocava seu cachimbo, um isqueiro bingo, um rosário. Na blusa, mais dois bolsos. Vestia-se sempre assim.

E que dizer dos homens, aqueles mais idosos!? Quase sempre suas calças tinham  à altura do bolso direito, um outro bolso, pequenininho, para colocar o relógio, que era preso por corrente nos cintos. Muito tempo depois, Santos Dumont inventou a pulseira de pulso para facilitar olhar as horas, no braço esquerdo, quando pilotava seu 14 BIS.

Que tempos! 

Ainda voltando na memória, no Mocambo, era natural os meninos usarem calças curtas e camisas com bolso. Na juventude e como adulto os bolsos sempre faziam parte das camisas (e até dos ternos para as festas de fim de ano, produzidos por Jurandir Brás).

Ora, os bolsos eram e são uma necessidade. Não importa a idade. Eles não complementam o vestiário; são parte intrínseca.

Como idoso (muitos não querem ou aceitam o termo velho), os bolsos nas camisas devem sempre integrá-las. Vamos lá: onde colocar o remédio de urgência? Onde colocar um bilhetinho de um filho ou neto?    

É claro que a supressão dos bolsos não faz parte de uma estratégia das camisarias. ´É motivo econômico, mas que afirmam ser “moda”.

Da minha avó e de todas as avós, do meu tempo de menino e de todos os tempos dos meninos, sempre fazendo parte da indumentária, os bolsos eram uma necessidade. Agora, porém, já com nossos filhos (que quase não vestiram camisas com bolsos) eles são sem importância.

Só resta aos idosos-velhos, ou velhos-idosos, algo que não podem tirar: a lembrança. É ela que ainda traz um conforto.

Ah, os bolsos! 

Por Manoel Ferreira Lira

morrosanto@gmail.com

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