O primeiro texto do ano ambiciona ser um plano de construção da felicidade. Seu primeiro propósito é levar os adultos a uma doce reflexão, na esperança que depois de lambuzados no mel da sensatez homens e mulheres se sintam aptos a mergulharem nas ondas das alegrias compartilhadas. Mergulhados, respirem no mesmo ritmo e juntos produzam sons capazes de cadenciar os movimentos dos corpos numa coreografia de exaltação à vida.
A partir daí passem a viver como se a felicidade fosse uma ação como andar, correr, seguir… enfim, como se existisse em suas gramáticas o verbo felicidade. E esse texto tivesse apresentado os motivos para conjugá-lo em todos os tempos e modos verbais, impondo a todos o exercício diário da felicidade.
Os novos comportamentos, destes homens e destas mulheres, chamarão a atenção dos cientistas sociais que os transformarão em objetos de estudos nas universidades, e aos poucos a felicidade ganhará o status de disciplina obrigatória em todo ciclo escolar. Os Professores serão capacitados a ensinarem seus alunos a serem felizes. Economistas criarão os indicadores de desenvolvimento da felicidade e os matemáticos as fórmulas para chegar à sua exata medida.
Os mercados exigirão de todos os profissionais conhecimentos mais ou menos aprofundados nessa área e os trabalhadores correrão em busca desse aprendizado.
Parlamentos aprovarão mudanças nas constituições dos seus países para obrigarem os estados a fazerem seus povos felizes. E os estados incluirão em seus orçamentos uma nova categoria, diferente de receitas e despesas, reservada somente para a felicidade.
Bancos tratarão a felicidade como ativo. Agências que calculam o risco dos países darão àqueles com maior índice de desenvolvimento da felicidade maior grau de investimento, e seus gestores tornar-se-ão responsáveis pela governança global.
Para registrar tal revolução, escritores gastarão suas tintas na adequação dos seus personagens à correta conjugação do novo verbo. Os jornais pautarão consultas a especialistas em felicidade e os jornalistas serão obrigados a fotografarem muitos momentos felizes e redigirem sobre eles.
Passado o tempo, esse texto perderá sua finalidade e a criança do futuro estranhará ao se deparar com tal conteúdo. Curiosa, perguntará: houve um tempo em que as pessoas não eram felizes?!