Psicóloga alerta pais após fuga de adolescente

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Luciana de Araújo repercute caso ocorrido na última semana – Foto: Acervo Pessoal

A fuga de uma alagoana, natural de Atalaia, de apenas 12 anos de idade para ir morar com o namorado, também adolescente e residente em Pernambuco, chamou a atenção da sociedade e de profissionais que lidam com as relações familiares. O jovem casal se conheceu através das redes sociais.

O caso, inicialmente investigado como desaparecimento, foi solucionado pela polícia no início da semana. No entanto, os motivos que, de uma forma geral, levam casais de jovens a tomarem tal atitude não saem das mesas de estudo e de trabalho de profissionais como a psicóloga Luciana de Araújo Vieira, que atua na 26ª Vara Cível da Capital-Família, do Tribunal de Justiça de Alagoas.

A menina Layza Carolina dos Santos Silva fugiu de casa enquanto os pais dormiam. De acordo com a mãe, a adolescente chegou a ficar 15 dias sem celular, mas conseguiu acessar a rede social por outros aparelhos da casa. Prints da conversa mostram Layla marcando a fuga com o jovem.

De acordo com a polícia, a adolescente foi encontrada na cidade de Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana de Recife. A polícia ainda não tem a identificação do adolescente com quem Layla marcou de fugir.

A mãe da menina, Letícia Santos, chegou a gravar um vídeo pedindo ajuda para encontrar a filha. Ela desconfiava que Layza mantinha um relacionamento pela internet e chegou a pensar que se tratava de um homem adulto.

Com a preocupação de afirmar que não estava citando esse caso de forma específica – até por não ter detalhes sobre a dinâmica familiar ou do casal – Lucina de Araújo Vieira, explicou, de forma geral, que a vigilância dos pais, mães ou responsáveis pelos menores precisa ser constante.

“A educação, a supervisão, a orientação, o zelo, a atenção são prerrogativas parentais. Do mesmo modo que precisamos estar a par da evolução escolar, do comportamento em sala de aula, das amizades que os filhos possuem, das mudanças repentinas de hábito, das questões de saúde, da escolha do Enem, igualmente deve ser acerca do acesso ao mundo virtual. Se tais quesitos precisam ser acessados por pais e responsáveis no mundo real, por que seria diferente com o mundo virtual?”, indagou a mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas.

A tarefa não é das mais fáceis. Mas não é impossível, contou ela. “Há muitas ferramentas de controle parental. Aplicativos gratuitos onde os pais podem acompanhar o histórico acessado pelos filhos, inclusive bloqueando o acesso a sites e aplicativos”, pontuou.

Todavia, como educadora parental, disse Luciana de Araújo Vieira, acredito que os filhos precisam ter clareza da responsabilidade dos pais, bem como terem ciência se estiverem sendo monitorados, para que se mantenha uma relação harmoniosa e sem quebra de confiança.

“Neste sentido, a melhor ferramenta é o diálogo, a presença efetiva dos pais no cotidiano dos adolescentes, mesmo que por conta do trabalho e demandas o tempo de convívio seja pouco, a qualidade desta relação precisa existir, o amor, a confiança e o respeito são os melhores instrumentos”, ponderou.

Tecnologia traz benefícios e desvantagens

De acordo com Luciana de Araújo, o estabelecimento e o avanço da tecnologia da informação são inegáveis. Com eles, detalhou Luciana de Araújo Vieira, aconteceu o surgimento de inúmeras ferramentas e aplicativos com objetivos diversos, sendo um deles, as redes sociais.

“As redes sociais possuem razões múltiplas e positivas, quer sejam, divulgações, ofertas de serviços técnicos e profissionais, propagandas de sites confiáveis, editais de concurso e coisas voltadas aos estudos. Todavia, como tudo na vida, tem o lado negativo se mal utilizado, seja por imaturidade cronológica, seja por adentrar conteúdos impróprios por convite, vontade ou manipulação de outro alguém”, esclareceu a especialista em Psicologia Jurídica pelo Conselho Federal de Psicologia.

Ainda conforme a psicóloga, o desequilíbrio do tempo de uso das telas e o material acessado podem afetar não somente às crianças e adolescentes, mas a qualquer público-alvo.

“É claro que existem relacionamentos saudáveis nas redes sociais. É preciso muito diálogo, orientação dos conteúdos permitidos, restritos e proibidos, explicação clara sobre os riscos, a qualidade da relação parento-filiar é fator importantíssimo nesse manejo”, destacou a psicóloga com especialização em Psicologia Jurídica e Criminologia pelo Cesmac.

Na avaliação de Luciana de Araújo Vieira, o grande diferencial do estabelecimento saudável e equilíbrio deste limite está no alicerce da qualidade da relação familiar de modo geral.

Relação familiar tem que ser baseada em respeito mútuo

É, segundo a psicóloga, uma construção ao longo do tempo, uma relação familiar satisfatória, onde prevaleça diálogo. É algo pautado no respeito mútuo, na efetividade de direitos e deveres, na confiança, em pais firmes no dizer não e acolhedores no dizer sim.

“Se a família repassar bons valores durante a infância, for capaz de viver em um ambiente satisfatório e pautado na comunicação, terão muito mais chances de terem sucesso e reciprocidade na educação de seus filhos”, frisou.

Mas, enfim, o que está além de uma adolescente fugir de casa com um desconhecido da Internet? “Longe de querer culpar os pais ou responsáveis, precisamos olhar para além do comportamento e analisar o todo, a estrutura familiar, o ambiente, a influência do meio”.

A psicóloga destacou que se a educação for pautada no amor, respeito e que se há espaço para confiança, se o adolescente tiver os pais como ponto de apoio, apego seguro, não terá por que esconder algo suspeito dos pais.

“O botão vermelho do alarme se acenderá caso uma terceira pessoa queira marcar um encontro às escondidas ou solicitar algo proibido. Os laços afetivos são importantes, ter amizade com os pais não significa permissividade e falta de limites. É uma janela aberta que dificulta o mal entrar nos nossos lares e atingir o que temos de mais precioso”, considerou.

Luciana de Araújo Vieira citou como exemplo de caso bem-sucedido de confiança familiar a história de uma adolescente, também de Alagoas, que recebeu um bilhete de um assediador. Desconfiada, a menina, de 11 anos de idade, entregou o bilhete ao pai que, se fez passar pela filha, para poder comprovar o crime de importunação sexual.

A relação de confiança entre pai e filha deu tão certo que culminou na prisão de um vendedor ambulante, de 25 anos de idade, que teria, inclusive, passado a mão nos seios da menina.

Caso bem-sucedido em outubro terminou com prisão

O caso aconteceu em outubro do ano passado. O pai se passou pela filha, marcou encontro com o assediador e chamou a polícia.

Segundo informações divulgadas pela Polícia Civil, tudo começou quando a menina estava indo para uma escola particular na Jatiúca, quando foi abordada pelo ambulante, que vendia balinha em uma bicicleta. O homem teria dito que era poeta e pediu para que a menina fizesse uma dedicatória e anotasse o número de telefone dela no caderno de anotações dele.

Quando o ambulante mandou mensagens para a menina, o pai, de posse do celular da filha, começou a responder as mensagens passando-se por ela. Marcaram um “encontro”, à noite, no Corredor Vera Arruda. O plano do pai era conseguir localizá-lo junto da polícia.

À noite, o vendedor foi até o local e foi surpreendido pelo pai da vítima, que estava na presença de outros amigos. A Polícia Militar foi acionada e realizou a prisão em flagrante do ambulante.

Na bicicleta dele, foi encontrado o caderno onde eram anotados os números de outras vítimas que ela já havia abordado em outras ocasiões. O homem foi preso e levado para a Central de Flagrantes, onde foi autuado pelo crime de importunação sexual.

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente

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