Sem trabalho, pescadores vivem com dificuldades

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Barcos e pescadores parados na beira da Lagoa Mundaú representam situação difícil da categoria – Foto: Edilson Omena

Com a proibição do tráfego de embarcações em grande parte da Lagoa Mundaú por causa das atividades de mineração da Braskem, muitos pescadores tiveram que suspender as suas atividades e estão sem renda. Segundo o presidente da Colônia de Pescadores da Zona 4, de Bebedouro, Mauro Santos, a produção de pescados vem diminuindo há alguns anos, mas piorou com as atividades da Braskem.

“De cinco anos para cá veio piorando e, depois desses problemas causados pela mineradora, piorou mais ainda. Chegou ao ponto de a gente estar proibido até de pescar, na área que é mais produtiva para pesca, que tem manguezal, onde o peixe desova. Então, estamos passando dificuldade. A única coisa que nos ajudou foi uma ação da Prefeitura de distribuição de cesta básica, que deu para amenizar um pouco a situação”, contou.

Mauro disse que estão na expectativa de receber um auxílio do Governo Federal. “Estamos agora esperando esse auxílio de dois salários para a gente poder pagar as nossas pendências, como água, luz, todos os nossos boletos que estão atrasados porque não estamos podendo utilizar a lagoa para a pesca. Estamos esperando ansiosamente a liberação desse auxílio que o Governo do Estado, junto com o Governo Federal, ficou aí anunciando que iam sair esses dois salários e até agora nada. Como todo mundo sabe, a pessoa não vive só de comida, tem que arrumar um dinheiro para pagar as contas”, afirmou.

O presidente da Colônia de Pescadores da Zona 4 ressalta que não são apenas eles que estão impedidos de trabalhar e enfrentam dificuldades. “Os pescadores das outras colônias, que fazem parte do Complexo Lagunar Mundaú, como a colônia do Vergel, do Trapiche, do Pontal da Barra, sem falar nos outros municípios, como Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte, que também fazem a atividade aqui na Lagoa Mundaú, foram afetados. Nós ainda tivemos essa ajuda da Prefeitura, mas nesses outros locais não tiveram, ainda não chegou ajuda de cesta básica para amenizar o problema dos pescadores e das marisqueiras dessas outras áreas”, disse Santos.

O pescador Mauro Bomfim é do bairro Vergel do Lago e contou que está difícil a situação. “Só podemos em um pedacinho, que mal tem pescado. Pouco mesmo porque onde é bom de peixe está proibido. A gente ainda tenta pescar, conseguir algo, porque precisa. Hoje mesmo, só peguei um quilo de camarão. A gente ia para lá com rede, pegava peixe, camarão, sururu, pegava tudo. E até agora não recebemos nenhum auxílio. Tenho 30 anos de colônia, mas até agora não veio nada para a gente dessa área, nem Vergel nem Trapiche”, afirmou.

A marisqueira Stefane de Souza é casada com um pescador e disse que também não tem sido fácil porque a quantidade que consegue de sururu é pequena. “Geralmente, só tem conseguido três ou quatro latas. Nessa semana ele conseguiu pegar sete latas, mas quando a gente separou só deu três quilos e meio. A gente escolhe o sururu que dá para cozinhar, o branco a gente não coloca porque não serve. Aí vende por 15 reais cada quilo. Então, para quem tem quatro filhos e paga aluguel, como a gente, não dá”, lamentou.

IMA diz que já é possível constatar impacto ambiental

O Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL) informou que já é possível constatar danos causados ao meio ambiente, após o rompimento de parte da mina 18 da Braskem, no último domingo (10). Segundo o órgão, já é possível constatar a submersão permanente do manguezal localizado às margens da Laguna Mundaú. O alagamento pode ser evidenciado pela quantidade, principalmente, de indivíduos de Mangue-branco (Laguncularia racemosa) mortos e copas das árvores total ou parcialmente sob a água.

Técnicos do IMA fazem coleta de água na Lagoa Mundaú (Foto: Ascom IMA)

O IMA/AL informou ainda que solicitou à Braskem em caráter de urgência um diagnóstico ambiental para mensuração do tamanho da área e caracterização da vegetação nativa afetada. A partir destes dados, foi solicitado uma atualização do Plano de Compensação Ambiental que abranja a realização de reposição florestal, e quaisquer outros estudos ambientais necessários, em função do evento ocorrido, conforme os moldes da legislação ambiental vigente.

Quanto à fauna, de acordo com o órgão, já é possível afirmar que a situação atual demanda a necessidade de planejamento de ações de resgate de fauna silvestre, em função da perda de habitat provocada pela subsidência e que porventura foram afetadas no evento ocorrido. “Assim, foi solicitada à empresa a apresentação de um plano de contingência abrangendo o resgate de fauna silvestre e doméstica na área da mina 18, visando a atuação estratégica e coordenada dos esforços de salvamento de animais que porventura necessitem de atendimento. Em cumprimento, a empresa apresentou um relatório inicial comprometendo-se a futuras atualizações periódicas”, disse em nota.

O IMA/AL também realizou coletas para monitoramento dos parâmetros físico-químicos, indicando que a laguna mantém sua classificação histórica como salobra classe 1, previsto na Resolução CONAMA 357/2006. “Embora os relatórios revelem variações, não demonstram diferenças substanciais entre si. Considerando o ambiente já degradado devido a várias fontes de contribuição, não se confirma um aumento expressivo na degradação após o colapso”, explicou.

Segundo o órgão, outras coletas realizadas na última segunda-feira (11) estão sob análise e os resultados devem ser divulgados no início da próxima semana, possivelmente, em conjunto com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Com o rompimento da mina 18, os pescadores denunciam a mortandade de peixes e outros animais que vivem na Lagoa Mundaú. Já são sentidas a escassez também de sururu, massunim e outros moluscos, além de siris.
A pesca está proibida nas regiões próximas a área onde havia a mineração da Braskem.

Por Tribuna Independente

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