Polêmica em torno da venda do hotel Jatiúca para a construtora Record envolve políticos, empresários e até o Ministério Público

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Em 1979 Maceió era apenas mais uma cidade nordestina sem nenhuma importância para o turismo. Foi quando surgiu o Hotel Jatiúca, ocupando uma enorme área da região da Lagoa da Anta, que divide os bairros da Jatiúca e Cruz das Almas, bem em frente ao mar, e projetou a capital no cenário do turismo nacional. Se de um lado o hotel trouxe muitos benefícios, a cessão do terreno continua gerando polêmica, mas foi esquecida ao longo dos anos. De origem do mesmo grupo que controla a Casas Pernambucanas, o Hotel Jatiúca foi idealizado e fundado pela empresária Helena Lundgren, conhecida no Brasil na década de 1970 como a grande dama do varejo à frente da marca que chegou a ter mais de 800 lojas em todo o país.

Mas a polêmica voltou à cena e ganhou manchetes por aqui e em todo o Brasil. É que foi anunciada com toda pompa a venda do Hotel Jatiúca à Construtora Record, que promete transformar todo o hotel em um local “mais democrático e moderno”, para “alagoanos e turistas”. Claro que foi alvo de contestação imediata de todos os lados.

E que muita coisa ainda precisa ser explicada. Por exemplo, o grupo paulista pagou um preço simbólico pelo terreno, algo em torno de R$ 50 mil a R$ 100 mil nos valores atuais. Para justificar o desembolso de dinheiro público, o grupo comprou a outra parte das terras, transformando tudo numa imensa área hoteleira. Claro que mesmo na época a tal “selva de concreto” foi duramente criticada.

Na época já se falava em uma passagem entre os bairros, que deveria ter sido construída na gestão do então prefeito de Maceió, Fernando Collor.  Após Collor ter sido convencido pelo governo estadual, a prefeitura desistiu da ponte e mudou o traçado da pista. Com isso, o Grupo Lundgren ficou com o terreno à disposição para construir o resort no local. A negociação foi iniciada no governo de Afrânio Lages e concluída na gestão de Guilherme Palmeira.

Dizem nos bastidores que o governador foi à reunião com a empresária, mas que já estava tudo certo. Depois ele autorizou a assinar e realizar a operação, que teve importante participação de Fernando Collor. O que veio à tona é que a área onde foi construído o hotel foi vendida por um valor irrisório, o que gerou certa resistência dentro do governo. O negócio acabou sendo fechado depois que o Estado se tornou acionista do novo hotel. As conversas aconteceram no escritório do Grupo Lundgren, em São Paulo.

Agora, 44 anos depois, o maceioense corre o risco de perder um dos seus principais cartões postais para uma casta privilegiada, numa transação feita em cima de uma área pública praticamente doada à iniciativa privada.

Comprado pela Construtora Record, o Hotel Jatiúca deve dar lugar a cinco torres de luxo, altíssimas. O projeto prevê uma torre hoteleira premium, duas torres residenciais de alto padrão, com um e dois apartamentos por andar, além de duas torres tipo estúdio/loft.  Parece que a construtora já comprou os lotes atrás do hotel, em frente ao Caldíssimo Ele & Ela, na Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes. A ideia desse investimento é construir uma nova via para ligar o bairro de Cruz das Almas a Jatiúca. Esta obra teria um impacto considerável na região, e precisaria de um aterro na praia para sair do papel.

O Ministério Público entrou na polêmica e quer saber de tudo, muito bem explicado. Que no fundo não deve mudar nada. O que todos querem saber é quanto foi pago pela aquisição de tudo. E quanto vai ser investido neste grandioso projeto.

Fonte: Jornal de Arapiraca/ Claudio Bulgarelli

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