José Carlos Lyra, presidente da Federação das Indústrias de Alagoas, e Luciano dos Santos, presidente da CUT/AL, trataram sobre o debate acerca da redução dos dias de trabalho no país – Foto: Edilson Omena e Assessoria
A redução da jornada de trabalho voltou ao centro do debate no país com a declaração do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, sobre acreditar que passou da hora de discutir nova regulamentação da jornada. Em Alagoas, classe trabalhadora e patronato divergem sobre a ideia. Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas, José Carlos Lyra, a proposta não é racional. “Para nós, isso é uma loucura”, opina. À Tribuna Independente, Lyra justifica que esta proposta, mesmo que em discussão, atrapalha o plano de avançar na produtividade.
“A indústria brasileira tem investido em novas tecnologias visando promover ganhos de produtividade, melhorar os sistemas produtivos, tornar o uso dos recursos mais eficientes. A indústria 4.0 visa o uso de técnicas modernas de gestão que tenham efeito direto sobre a produtividade das empresas. Neste sentido, não há como reduzir a semana de trabalho. Defender essa redução é investir em perdas imensuráveis na produção”, avalia José Carlos Lyra.
O presidente da Fiea em Alagoas reafirma o posicionamento seguindo a linha da representante nacional da indústria. “Somos totalmente contrários a essa proposta. A posição da Federação das Indústrias de Alagoas segue a Confederação Nacional da Indústria, que é contrária à redução da semana de trabalho”.
AVANÇAR NA PAUTA
Por outro lado, a Central Única dos Trabalhadores de Alagoas (CUT/AL), acredita que o diálogo está avançando mundialmente, e aos poucos, essa proposta tem avançado no Brasil, a exemplo do que explica o presidente da Central, Luciano dos Santos.
“É uma bandeira antiga da CUT a redução da jornada sem redução de salário. Agora, está indo para a prática em vários países e com a economia globalizada muitas empresas são internacionais e veem os resultados positivos em outros países, aí querem implementar aqui. Infelizmente alguns setores são mais conservadores e não são simpáticos. Eles, os setores, não levam em conta os ganhos da proposta”, analisa o presidente da CUT em contato com a Tribuna Independente.
Luciano dos Santos explica que a CUT tem se somado ao acúmulo da Central Sindical Internacional sobre o tema, e que está chamando o bloco patronal mais organizado para o diálogo. “Deu uma tensionada com a reforma sindical, mas estamos dialogando”.
Para ele, há muitas pautas simultâneas, e os servidores públicos estão mais focados em impedir a aprovação da reforma administrativa, mas em outros setores está no centro. “Em alguns ramos do movimento sindical, como bancários, isso está sendo discutido com mais força”.
O presidente da CUT relembra uma campanha central que aconteceu há mais de dez anos pela redução da jornada de 44 para 40 horas. “Agora o debate avançou na redução de dias, que na prática é redução da jornada do mesmo jeito”.
Entre as vantagens apontadas pelo sindicalista, ele fala na saúde do trabalhador que consequentemente seria uma redução de custos. “Tem pesquisa mostrando redução de adoecimento, de situações como Burnout. E por isso a despesa no sistema de saúde como um todo tende a ser bastante reduzida. Todo mundo ganha, desde o desafogamento do SUS até o sistema previdenciário”.
Luciano prevê que a Central Única dos Trabalhadores vai trabalhar nacionalmente as estratégias para o assunto em seu congresso. “Acredito que esse vai ser o eixo principal do Congresso Nacional da CUT, nos dias 19 a 22 de outubro. Alagoas vai participar com 81 delegados de 13 categorias, 9 urbanos e 4 rurais”.
MODELO
A experiência já está sendo testada no Brasil. Em outubro foi divulgado na imprensa que 20 empresas já participam do programa 4 day week Brasil. Entre os envolvidos, tem escritório de advocacia, estúdio de arquitetura e até hospital. Todas em grandes cidades.
Mas em outros países já está mais avançado. Nos Emirados Árabes Unidos, desde janeiro de 2022, todos os funcionários de órgãos públicos colaboram com apenas 36 horas semanais, divididas em quatro dias úteis.
O Reino Unido fez um teste com cerca de 60 empresas durante seis meses. As companhias escolhiam entre uma jornada de 8h diárias durante quatro dias, ou a mesma carga horária dividida em cinco dias. Sem prejuízo nos benefícios e salários. A experiência foi um sucesso e 92% das empresas manteve o formato ao final dos testes. Segundo os relatos houve aumento de 35% na receita e na satisfação e saúde dos funcionários.
Bélgica, Islândia, Espanha e Suécia são outros países que também já têm testes.
EM QUE CONSISTE?
A semana de quatro dias propõe reduzir a jornada de trabalho a 32 horas semanais. O novo arranjo pode ser feito de três maneiras: tirar a segunda-feira da semana útil; tirar a sexta-feira da semana útil; e reduzir a carga horária todos os dias.
O princípio do projeto é utilizar a lógica do “100 – 80 – 100“, que consiste em: 100% do salário; 80% de tempo e 100% de produtividade. O projeto-piloto da semana de quatro dias começará a ser testado no Brasil em novembro, mas as fases preparativas para o processo já estão em andamento desde o início de setembro.
Vinte empresas foram selecionadas para participar do projeto, que se estende até 2024. A Reconnect Happiness at Work lidera a iniciativa no país, em parceria com a 4 Day Week Global e o Boston College.
Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora / Tribuna Independente