O 7 de setembro é data que também nos transporta para a infância ao lembrar dos ensinamentos da professora das primeiras letras historiando o grito da independência.
Nossa mente infantil absorvia o fulgor das palavras da mestra que nos dava uma imagem imaginária de um senhor de espada desembainhada desafiando o exército real.
O grito “Independência ou morte” narrado pela professora nos enchia de êxtase, de entusiasmo e de aplausos mentais ao príncipe regente Dom Pedro I.
Momento de gala era o hasteamento da bandeira do Brasil em frente à escola, todos perfilados com mão no peito cantando o hino nacional.
A gente se transportava para um mundo diferente. A brasilidade vertia em nosso sangue. O ar que a gente respirava parecia oriundo de um estado de ataraxia, tamanho era o envolvimento espiritual que nos abraçava.
Ainda hoje vemos na bandeira do Brasil um símbolo de patrimônio cívico.
O 7 de setembro é uma data de leveza para memória brasileira, celebrada pelos poderes da República e aplaudida pelos brasileiros.
À quela época o que não sabíamos era a extensão das palavras INDEPENDÊNCIA e LIBERDADE.
Nossos sentimentos conduzidos pelos ensinamentos primários, eram de que a independência destravava os grilhões que Portugal prendia os brasileiros.
Tínhamos a ideia de um Brasil livre com o povo alegre, participante da liberdade com oportunidades para todos.
Era de fato, a concepção infantil sem o senso crítico necessário que, pela própria idade não tínhamos o alcance e a extensão real do mundo e de suas artimanhas.
Faltou, no entanto, como essência da Liberdade, a consciência de políticas públicas que garantissem a dignidade da população menos abastada, a exemplo da saúde e da educação, além da segurança.
Aquele grito de 1822, apenas rompeu a corrente que submetia o Brasil ao governo português sem dar efetividade a inclusão da população nas liberdades e na independência do galante grito INDEPENDÊNCIA OU MORTE.
A escravidão não estava no Grito do Ipiranga. A cor das pessoas era a identidade para correntes ou para os palácios tilintantes de cristal.
O grito mesmo após os anos de guerra não alcançou a população como povo. Não humanizou a senzala, nem oportunizou os excluídos do feudo colonial.
O Grito do Ipiranga em 1822 deixou aberturas escravagistas que perduram até hoje e se estabelecem como calo para governos que optam pela inclusão social num mundo melhor e mais igualitário.
Temos a independência da Corte Portuguesa, mas não temos a independência, nem a liberdade das periferias das grandes metrópoles.
As favelas são a réplica das senzalas coloniais. Seus moradores são vistos como sub-humanos de nenhum valor cidadão. A violência substitui a oportunidade de estudo, de comida, de saúde.
O homem do campo, sem terra para trabalhar, migra para ser diarista em fazendas de latifúndios recebendo um injusto salário e muitas vezes é submetido a trabalhos de essência escravo.
As ruas das cidades grandes parecem um formigueiro humano, lotadas de moradores sem teto, pedintes de um pão para não morrerem de fome.
Crianças subnutridas, às vezes esqueléticas por falta de leite materno ou outro leite, é o que dolorosamente encontramos no dia a dia, com a mãe a suplicar uma moeda para o filho não morrer de fome.
Essa realidade brasileira embaça o “Independência ou Morte” a considerar que um país que tem povo na miséria não tem Independência, nem liberdade. Fica só com a morte.
Por Zé Ventura