A história da radiofonia em Arapiraca remonta aos anos de 1944, quando José Gondim, vindo da Paraíba, assumiu o cargo de operador do Cine Leão, instalado na praça Gabino Besouro, hoje praça Marques da Silva. Técnico em eletrônica, o sonoplasta tinha a pretensão de formar uma rede de alto-falantes nas cidades de Alagoas. Seu projeto não foi aceito.
Um ano após, em 1945, assume a prefeitura o escrivão João Ribeiro Lima, nomeado que foi pela ditadura da época, cujo presidente da república era Getúlio Vargas. João Ribeiro ouviu o projeto do paraibano e resolveu instalar um serviço de som pelas ruas de Arapiraca, principalmente pela hoje praça Manoel André, com instalação no centro da rua, o Cais de Manoel Leal. Eram duas bocas de som chamadas de corneta. Ali, em 30 de outubro de 1946, foi tocada a primeira música: “Pelo Telefone”, um samba brasileiro de autoria de Ernesto dos Santos (o Donga) e Mauro de Almeida, de 1916.
Às 10 horas daquela manhã de aniversário de emancipação política, o locutor, aliás, a locutora abria pela primeira vez os destinos radiofônicos de Arapiraca. A speak (locutora) assim abriu os trabalhos daquele som estranho, que ecoou por grande parte da cidade:
– “Aqui é o serviço de alto-falante da Prefeitura Municipal de Arapiraca, a Voz do Povo”.
A locutora era Cyra Ribeiro, uma das filhas do prefeito João Ribeiro Lima.
No intervalo entre os “dobrados”, Cyra divulgava os serviços da prefeitura e até notas sociais, como aniversários, batizados e casamentos, além de atos de utilidades públicas. Havia uma interação entre a comunidade e o serviço de som. Até um programa de calouro movimentava moças e rapazes, com os pretendentes a cantores selecionados por Gondim Alves.
O serviço de altofalantes, que funcionava no mercado da farinha (prédio da prefeitura) e era situado onde até pouco tempo foi o Hotel Real, funcionou até 1948, quando o novo prefeito, Luís Pereira Lima, resolveu modificar o Cais de Manoel Leal. Desapareceu o serviço de som da prefeitura e desapareceu, repentinamente, a primeira locutora de Arapiraca. Alguns anos depois, assumiu o cargo de escrivã do 1º Ofício de Registro de Imóveis de Arapiraca.
(O material usado para este artigo foi retirado, em grande parte, de A História das Comunicações em Arapiraca Antes do Rádio, do comunicador, teatrólogo e intelectual José de Sá, o J. Sá).
Corneta de som igual as usadas pelo serviço de alto-falantes da prefeitura de Arapiraca, em 1946.
Fonte: Jornal do interior / Manoel Lira, Eli Mário e Roberto Baia