Pela primeira vez na história do levantamento censitário brasileiro, os quilombolas tiveram voz. O IBGE divulgou, nesta quinta-feira (27), os primeiros resultados oficiais sobre esse grupo étnico, que trazem um panorama inédito de quantos são e onde estão os quilombolas de todo o Brasil.
Ao todo, são cerca de 1,3 milhão de pessoas quilombolas no país. Os estados com maior população são Bahia (397 mil), Maranhão (269 mil) e Minas Gerais (135 mil). Alagoas ocupa o 6º lugar entre as unidades da federação, em números absolutos e proporcionalmente, com o total de 37.722 quilombolas autoidentificados no estado, o que corresponde a 1,21% em relação à população geral.
Pertencimento étnico
A identificação como quilombola foi baseada na autodeclaração, independente de qual tenha sido a resposta no quesito de cor ou raça. Foi considerada quilombola toda pessoa que, morando em qualquer um dos tipos de território quilombola, se identifique como tal.
Desta forma, o pertencimento étnico foi desvinculado da autodeclaração racial. A pergunta “você se considera quilombola?” é um quesito à parte. Ou seja, mesmo que um residente tenha se declarado branco, ele ainda pode ser considerado quilombola, com base na autoidentificação.
“Você se considera quilombola? Qual o nome da sua comunidade?”
Nem toda localidade respondeu às perguntas sobre quilombolas no Censo 2022. A aplicação do questionário foi conduzida de forma espacialmente controlada, o que significa dizer que foi restrita aos territórios oficialmente delimitados, agrupamentos, e demais áreas de conhecida ou potencial ocupação dos descendentes dos remanescentes dos quilombos.
Os territórios oficialmente delimitados são aqueles que possuem alguma delimitação formal pelo INCRA ou pelos órgãos fundiários municipais e estaduais. Por sua vez, os agrupamentos dizem respeito a um conjunto de 15 ou mais pessoas quilombolas que vivem de modo contíguo e estabelecem vínculos de família ou comunidade entre si. As outras localidades recenseadas são os demais locais em que há potencial ou efetiva ocupação quilombola, tais como o entorno dos agrupamentos e áreas de ocupação domiciliar dispersa no meio urbano ou rural.
O recenseamento quilombola contou com duas perguntas destinadas à população. Primeiro, o informante deve responder: “Você se considera quilombola?”. E, em caso afirmativo, é feito o questionamento: “Qual o nome da sua comunidade?”.
Alagoas tem o maior percentual de quilombolas vivendo fora dos territórios oficialmente delimitados em todo o país
Mais de 98% dos quilombolas de AL vive fora dos territórios oficiais, segundo dados do Censo 2022. Trata-se do maior percentual do país, seguido por MG (96,62%) e BA (94,77%). Contudo, a tendência é nacional, tendo em vista a baixa delimitação e identificação desses territórios em todo país. A média brasileira conta com 87,41% da população quilombola vivendo fora dos territórios oficialmente delimitados, o que corresponde a mais de 1 milhão de pessoas.
Em AL, três territórios foram delimitados formalmente: Tabacaria, em Palmeira dos Índios; Cajá dos Negros, em Batalha; e Abobreiras, em Teotônio Vilela.
A população dos territórios oficialmente delimitados em AL é composta quase que totalmente pelos representantes do grupo étnico. O maior percentual é visto na Comunidade Quilombola de Tabacaria, que tem 98,35% de quilombolas, totalizando 363 dos 357 residentes. Cajá dos Negros (96,79%) e Abobreiras (94,44%) tem percentuais ligeiramente menores, mas ainda apresentam alta predominância de quilombolas residentes.
Palestina é a cidade alagoana com maior proporção de quilombolas
Fora dos territórios oficialmente delimitados, a cidade de Palestina possui o maior percentual proporcional de quilombolas entre os municípios alagoanos. Em comparação com os números da população geral, 31,72% dos moradores são autoidentificados quilombolas.
Jacaré dos Homens (24,72%) e Poço das Trincheiras (15,54%) também possuem uma população expressiva de quilombolas, com índice relevante de pertencimento étnico.
Penedo (5.280 quilombolas), Traipu (2.938) e Arapiraca (2.128) lideram o ranking em números absolutos. Porém, na contagem proporcional, os índices de quilombolas são de 9% da população (Penedo), 12,47% (Traipu) e 0,91% (Arapiraca). Destas, apenas Traipu (5º lugar proporcional entre os municípios) e Penedo (10º lugar proporcional) continuam em posição de destaque.
Baixa ocupação quilombola em União dos Palmares
Apesar da intensa relevância histórica, a cidade de União dos Palmares apresentou baixa proporção de quilombolas em relação à população total. Apenas 561 pessoas se autodeclararam quilombolas, o que representa menos de 1% da população total de 59.280 residentes. A cidade está em 37º lugar entre os 53 municípios alagoanos com população quilombola.
O município de União dos Palmares, onde hoje existe a tradicional Comunidade Quilombola do Muquém, é também lugar do extinto Quilombo dos Palmares, um dos principais símbolos da história quilombola do país.
Oito cidades alagoanas possuem mais de 10% da população composta por quilombolas
Além de Palestina, Jacaré dos Homens e Poço das Trincheiras, outras cidades alagoanas possuem uma população expressiva de quilombolas, em relação ao percentual da população geral.
Santa Luzia do Norte (15,28%), Traipu (12,47%), Monteirópolis (11,04%), Carneiros (10,82%), Água Branca (10,04%) também fazem parte das cidades com mais de 10% de população que se autoidentifica como quilombola.
Moradores quilombolas em domicílios particulares permanentes
O Censo 2022 também investigou como é a ocupação domiciliar entre os quilombolas. Para tanto, foram considerados os domicílios particulares permanentes ocupados, que servem exclusivamente à habitação, de modo contínuo.
Dos mais de 1 milhão de domicílios permanentes ocupados em AL, quase 13 mil (12.885) são ocupados por pelo menos um morador quilombola, totalizando 1,24%. No Brasil, essa média é de 0,65%.
Palestina (35,73%), Jacaré dos Homens (24,08%) e Santa Luzia do Norte (16,94%) possuem os maiores percentuais de domicílios particulares permanentes ocupados que possuem ao menos um quilombola entre seus residentes.
Média de moradores por domicílio particular ocupado permanente é maior entre os quilombolas
A população quilombola tende a viver em domicílios mais cheios. A média de moradores por residência, quando há ao menos um morador quilombola, é de 3,17 moradores por domicílio. O índice é superior à média geral de 2,79 moradores em domicílios particulares permanentes.
Em AL, os domicílios em que há ao menos um quilombola possuem, em média, 3,26 moradores. No comparativo por cidades, a média de moradores aumenta. Craíbas (4,00) lidera os números, seguida por Matriz de Camaragibe (3,68) e Traipu (3,56 moradores por domicílio).
Metodologia
Para realizar esse mapeamento, dentro do Censo 2022, o IBGE contou com o apoio dos próprios quilombolas. A metodologia para elaboração do questionário foi baseada numa cartografia censitária participativa, com consultas públicas às associações e entidades representativas. Além disso, os recenseadores receberam treinamento diferenciado e também foram realizadas reuniões de abordagem com lideranças comunitárias para sensibilização.
Por Assessoria IBGE/AL