Desgaste de Lira abre espaço para Isnaldo Bulhões

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Apesar de ser um estado pequeno, Alagoas tem o poder de produzir nomes de destaque no cenário político nacional. A novidade agora é o crescimento do nome do deputado Isnaldo Bulhões (MDB), como candidato à presidência da Câmara dos Deputados. O atual presidente da Casa é o alagoano Arthur Lira (PP), que vive uma crise por conta das investigações da Polícia Federal na Operação Hefesto, que atingiu diretamente alguns de seus aliados.

Bulhões, que vem de uma família com destaque político no Sertão alagoano, é um nome relativamente discreto aqui no estado. Mas, a discrição não interfere no visível poder de articulação do deputado, que já tem estado em posições cada vez mais estratégicas em Brasília. Hoje Isnaldo é líder do MBD na Câmara.

O polêmico projeto de lei que esvaziou o Ministério do Meio Ambiente e o dos Povos Indígenas, por exemplo, com ampla repercussão nacional, teve o alagoano como relator. Não surpreenderia se o nome do alagoano surgisse como candidato com o apoio dos dois lados, tanto de Renan Calheiros (MDB) quanto Arthur Lira (PP), já que apesar das disputas por base aqui em Alagoas, eles muitas vezes operam alinhados em Brasília, como foi o caso da MP 1154.

O nome de Isnaldo já aparece em reportagens de outros estados como um dos nomes cotados para a sucessão de Lira.

A Tribuna Independente quis repercutir com Isnaldo Bulhões esse movimento que vem sendo realizado paulatinamente na Câmara dos Deputados, no entanto até o fechamento desta edição, não houve êxito.

CENÁRIO ABERTO

A cientista política Luciana Santana vê o surgimento do nome como uma consequência da movimentação de Bulhões em Brasília.

“É natural que esses encaminhamentos sejam feitos para sucessão, principalmente de cargos estratégicos como é o cargo de presidente da Câmara. O nome dele surge como nome natural pela própria proximidade com o deputado Artur Lira, e também algumas relatorias de projetos importantes que ele assumiu nos últimos meses na Câmara dos Deputados. A reforma ministerial é um deles, estruturação dos cargos que ele ficou bastante em destaque”, avalia Santana, que também é professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

No entanto, Luciana acredita que o quadro ainda muito em aberto. “Esses acordos se dão de forma partidária. Então, teria que ver a força que Alagoas tem para se manter mais vez na condução da presidência da Câmara, de forma que seriam seis anos consecutivos caso isso vingasse. Então, isso passa a ter uma disputa territorial e partidária, faz parte também da dessa articulação, que deve acontecer a partir de agora. Não é nada certo, mas é algo que provavelmente vai começar a ser discutido, já que ainda tem muito tempo para essa eleição. Isso demora ainda mais de um ano para acontecer, um ano e meio, pelo menos”.

Parlamentar não está no campo da oposição ao governo na Câmara


Em caso de consolidação do nome do deputado federal Isnaldo Bulhões (MDB), a cientista política Luciana Santana, avalia que seria uma continuidade da política que vem sendo adotada pelo atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).

“A manutenção do centrão no poder, tenta de alguma maneira, pressionar o Executivo [governo Lula] no sentido de ter mais força nas decisões políticas e de alguma maneira para Alagoas, é a força da política alagoana no canal nacional. Isso não se discute, consequentemente, claro, tem retorno para Alagoas, nesse sentido. Acaba podendo ter mais chances de ser beneficiado em projeto, vem emendas, tendo alguém que é do estado à frente dessa função”, argumenta a Santana em contato com a reportagem da Tribuna. 

O Planalto, por outro lado, não deve estar convencido ainda, de acordo com Luciana. “É muito difícil falar isso com tanta antecedência. Provavelmente, muita coisa vai acontecer ao longo desse um ano e meio, até que vem a nova escolha do a escolha do novo presidente da Câmara. Acho que hoje não é o nome que o governo Lula gostaria. Provavelmente, gostaria de ter um nome que fosse governista, mesmo, efetivamente governista. Não é o caso de ser declaradamente governista. Mas com certeza ele vai estar nesse radar e tende estar ali dentre as opções caso ele ganhe essa afeição do presidente Lula ao longo desse próximo ano”, complementa.


Apesar não ser considerado organicamente governista, o deputado federal Isnaldo Bulhões não está na oposição. Sua influência é claramente percebida na votação que Lula teve na região do Sertão, seu reduto eleitoral. Em suas redes não se vê críticas ao atual presidente. E a relação com os Calheiros – Renan e Renan Filho – dentro do MDB também pode ser um canal de aproximação com a presidência da República.

Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora com Tribuna Independente

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