São João sem Roça

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Lamento num grito de alerta

O mês de junho tem brisa e noites diferentes dos outros meses do ano. Tem milho verde assado, canjica, pamonha, quentão, rabo de galo, cachaça com limão e outros drinks que aquecem o corpo, num ritmo e clima de “forró pé de serra”.

Tem a voz dos imortais Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Alcymar Monteiro, Flávio José, Marinês e sua Gente, Santana, o cantador, Elba Ramalho e tantos outros que expulsam o macambúzio e trazem o forró mexendo com o corpo, dando-lhe alegria e abraçando paixões pela tradição das festas juninas no nordeste. 

Fogueiras em no dia de Santo Antônio, o casamenteiro, de São João, o do carneirinho e de São Pedro, o “chaveiro do céu” acendem o espírito festivo de todos nós. 

Tem a alegria da “quadrilha junina”, oriunda de Portugal aportada ao Brasil no Século XVI, que orna as damas com vestido de chita, rosa natural presa aos cabelos, com um exuberante sorriso de felicidade numa dança cadenciada por um marcador que pontua a ida e vinda no encontro dos pares. 

Nos bailes genuinamente juninos que fincam raízes nos costumes e tradição do nordeste imperam o Forró, o Baião, o Xote e sacodem o corpo ao som de um fole, um zabumba e um triângulo. 

É uma festa diferente, contagiosa tanto pelas comidas típicas, quanto pelas músicas que assanham moças, rapazes, casais avós e todos mais. 

Mas, no meio dessa paz alegre e festiva que invade o coração nordeste, observa-se que há um invasor promovendo o apagar das tradições juninas aqui de nossa região. 

Há alguns anos que as quadrilhas juninas no nordeste, em especial as promovidas pela Rede Globo, vem assumindo as cores e ornatos das Escolas de Samba da Marquês de Sapucaí, desfigurando a tradição dos vestidos femininos e do chapéu de palha mal quebrado na cabeça dos homens. 

Artistas, cantores da música genuína do nordeste vem sofrendo discriminação sub-reptícia de larga monta, o que fica claro como o sol do nordeste que nas fronteiras da tradição junina existe um acampamento de invasores forasteiros na espreita do momento para o ataque. 

Flávio José, um festejado artista nordestino, teve seu tempo de apresentação reduzido em um festival de músicas de São João para ceder parte de seu tempo a outro artista de natureza “sertaneja”, de nenhuma identidade junina. 

Nos intervalos das apresentação entre um artista e outro, abriram-se as bocas de um “paredão” de som com músicas “funk” desfigurando a natureza da festa regional de São João, “tudo isso aos olhos e ouvidos dos organizadores da festa,”  desabafou o cantor.

Festival que já selou a tradição junina na história do São João nordestino, excluiu de sua participação, um ícone da música nordestina, fiel escudeiro do estilo inspirador do Gonzagão, o artista Alcymar Monteiro; enquanto outros de nenhuma similitude com as músicas de São João foram chamados ao festival. 

Todas essas mudanças das festas de São João não nos parecem casuais em forma dos chamados “acidentes de percurso” . 

Lemos como intencionais, já que há uma mistura na natureza dos shows contratados pretensamente para festas de São João. 

  As consagradas duplas sertanejas, de reconhecido sucesso no mundo da música romântica, não representam o calor da fogueira, nem o gosto da canjica ou do milho assado na mesa nordestina. Não tem comunhão com o forró, nem com o baião, nem com o xote;  não cantam para o arrasta-pé que levanta a “poeira no salão”.

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