Crime ambiental da Braskem toma proporções internacionais no Senado Federal

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A Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal debateu na última segunda-feira (08), em audiência pública, as iminentes alterações acionárias da Braskem, responsável pelo maior crime ambiental em área urbana do mundo que atingiu em Maceió mais de 200 mil pessoas, aproximadamente 14 mil casas, aumento na taxa de desemprego no estado, perda de R$ 3 bilhões de reais de arrecadação de ICMS, além dos danos morais, psicológicos, afetivos para as famílias atingidas.
A audiência é uma proposição do senador e presidente da Comissão Renan Calheiros após os rumores de possível venda das ações da mineradora. Nos últimos dias as especulações fizeram com que as ações disparassem mais de 40% na bolsa, na sexta-feira (05), após o anúncio de que a petrolífera Adnoc, dos Emirados Árabes Unidos, faria uma oferta pela empresa.
Renan Calheiros abriu a sessão afirmando a necessidade de um acordo justo para as vítimas, incluindo o município de Maceió e o estado de Alagoas. “A mim não importa a recomposição acionária da Braskem e que venham comprar ações ou mesmo controlar a empresa. O meu ponto é conclamar as partes envolvidas a registrarem o compromisso com o pagamento justo dos prejuízos causados pela Braskem em bases satisfatórias para os refugiados ambientais, para a Prefeitura de Maceió e Estado de Alagoas”, destacou.
O governador de Alagoas Paulo Dantas compôs a mesa e se colocou à disposição dos afetados pelo crime ambiental. “O Governo de Alagoas também se associa à luta travada pelo movimento unificado das vítimas da Braskem e da Associação dos empreendedores do Pinheiro e regiões afetadas. É inconcebível tratar da venda de ações e do futuro dos acionistas sem incluir na pauta as justas indenizações reivindicadas pelas vítimas, que são moradores dos flexais, das quebradas, da Marquês de Abrantes e da Vila Saem, que necessitam ser realocados e indenizados, assim como as vítimas que estão na borda do mapa de risco, que até agora infelizmente excluídos de qualquer reparação”, afirmou Paulo Dantas.
A tentativa de obter mais lucros por parte da empresa foi alertada pelo deputado federal Rafael Brito que sua família também é uma das 14 mil afetadas pela exploração indevida do ambiente. “A Braskem não pode se beneficiar do próprio crime, isso não foi uma tragédia ambiental causada pelo acaso, isso foi um crime ambiental cometido pela uma extração de minério equivocada. Ninguém pode se beneficiar dessa torpeza para inclusive no futuro ser beneficiado aproveitando da área imobiliária”. Essa empresa não pode daqui há dez anos ter tirado 15 mil famílias das suas casas, movimentado 60 mil pessoas, causado problema em 20% da área urbana da nossa capital e daqui a alguns anos ganhar dinheiro do ponto de vista imobiliário desta tragédia”, relembrou o deputado federal.
A arquiteta e urbanista Isadora Padilha defendeu o registro do crime com proporções jamais vistas no mundo para que não se repita. “Nós não podemos esquecer o que foi gerado aqui, embora seja algo doloroso, isso não pode passar na história sem que se tenha algo contando o que aconteceu para as futuras gerações, sem que se honre a memória das pessoas, da cidade, do estado. Também não se pode trabalhar esse lugar sem que se faça algo em relação a catástrofe que está em curso, então Maceió já deveria estar pensando como uma cidade na vanguarda da discussão sobre mineração no mundo. Então esse é um caso único, sem precedência que merece ser estudado. Essa área precisa ser trabalhada para toda cidade, mas também para que pessoas do mundo inteiro possam vir aqui aprender com o que nós estamos vivenciando para que isso não só não seja esquecido, como também não seja repetido”.
Participaram da audiência o coordenador do Núcleo de Proteção Coletiva da Defensoria Pública de Alagoas, Ricardo Melro; Hugo Wanderley, presidente da Associação dos Municípios Alagoanos, o deputado estadual Alexandre Ayres, a secretária nacional de Aquicultura Tereza Nelma, os pesquisadores Abel Galindo, mestre em geotecnia; Isadora Padilha, arquiteta e urbanista, José Elias Fragoso, economista; Edson Gouveia Bezerra, professor, autores do livro “Rasgando a Cortina de Silêncios: O lado B da exploração do sal-gema de Maceió”; Camilla Dellagnese Prates, socióloga e Antônio Domingos Santos, líder comunitário e representantes dos moradores dos bairros atingidos; Alexandre Sampaio, da Associação dos Empreendedores do Pinheiro; Maurício Sarmento e Cássio de Araújo do Movimento das Vítimas da Braskem.

Fonte: Jornal do interior/ Lysanne Ferro

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