Pesquisa da Ufal revela que altura em crianças é influenciada por fatores econômicos

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Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas (Fanut/Ufal) evidencia que o déficit estatural presente em uma população, reflete, mais do que questões étnicas, suas precárias condições de vida ao longo da história. Em Alagoas, as crianças mais pobres são significantemente mais baixas que aquelas pertencentes aos estratos socioeconômicos mais elevados.

As crianças de nível social mais elevado no Estado, por sua vez, não se diferenciam das crianças que vivem em países de alta renda. Os dados foram coletados pelo professor Haroldo Ferreira, da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas (Fanut/Ufal), e por sua orientanda de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Nutrição/Fanut/Ufal, Tamara Rodrigues dos Santos e recentemente foram publicados pela revista internacional Nature Scientific Reports, do grupo editorial Nature. O periódico internacional, além da qualidade técnica, possui um histórico prestígio entre pesquisadores.

A pesquisa, que aborda a redução dos benefícios à saúde de crianças e adolescentes decorrentes de viver em cidades, foi realizada por um consórcio mundial formado por 1.500 pesquisadores, que analisaram dados de 71 milhões de pessoas (5 a 19 anos) residentes em áreas urbanas e rurais de 200 países. O texto na íntegra, intitulado Diminishing health benefits of living in cities for children and teens (em inglês) se encontra disponível no website da revista britânica.

Os pesquisadores da Ufal integram o NCD Risk Factor Collaboration (NCD-RisC), uma rede internacional de cientistas que fornece dados rigorosos e oportunos sobre os principais fatores de risco para doenças não transmissíveis em todo o mundo. Em 2021 houve uma publicação do grupo na Lancet contando com a participação do professor Haroldo. Este ano, já contando com a participação da pós-doutoranda Tamara Rodrigues, houve a publicação de um segundo artigo.

O estudo evidenciou que, no século 21, houve marcante redução no diferencial de altura anteriormente existente entre indivíduos áreas urbanas e rurais. “O estudo também avaliou o IMC das crianças – um indicador para avaliar se elas possuem peso saudável para sua respectiva altura. Os pesquisadores verificaram que, em 1990, as crianças das cidades tinham IMC ligeiramente superior aos das crianças das áreas rurais. Em 2020, as médias de IMC aumentaram na maioria dos países, embora mais rapidamente para as crianças urbanas, exceto na África subsaariana e no sul da Ásia, onde o IMC aumentou mais rapidamente nas áreas rurais”, informa.

Ele conta ainda que o enfraquecimento das políticas públicas determinou a maior incidência do problema. Nos últimos 30 anos, a diferença entre o IMC urbano e rural permaneceu pequena, situando-se em torno de 1,1 kg/m² (menos de 2 kg para uma criança com 130 cm de altura ou menos de 3 kg para um adolescente com 160 cm de altura).

“Em se tratando de nutrição e saúde, os resultados deste estudo global desafiam as percepções comuns sobre os aspectos negativos de se viver em cidades. De fato, as cidades continuam a oferecer benefícios consideráveis para a saúde de crianças e adolescentes. Felizmente, na maioria das regiões, as áreas rurais estão alcançando os níveis encontrados nas cidades graças a investimentos em saneamento e promoção da alimentação saudável, nutrição e saúde”, avalia o pesquisador.

Ele explica que a questão não é tanto se as crianças vivem em áreas urbanas ou rurais, mas onde vivem os pobres e se os governos estão enfrentando as iniquidades sociais com iniciativas como renda complementar e promoção da alimentação adequada e saudável. “Diante dos danos causados pela desnutrição nas fases de crescimento, justificam-se os esforços do atual governo federal em restabelecer e fortalecer as políticas de combate à pobreza e promoção da alimentação adequada”, afirma Haroldo Ferreira.

Problema que influencia o futuro

Este é um problema sério em todos os níveis, do individual ao regional. O crescimento inadequado em crianças e adolescentes está fortemente ligado a problemas de saúde ao longo da vida, ao fracasso escolar e a um imenso custo do potencial humano não realizado. “Esses resultados devem motivar políticas de combate à pobreza e que promovam o acesso à alimentação adequada, garantindo que crianças e adolescentes cresçam de adequadamente e se tornem adultos saudáveis e produtivos”, alerta.

Por Jacqueline Freire / Ascom Ufal

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