Diagnóstico de transtorno bipolar pode levar anos; conheça os sintomas

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O pintor Vincent Van Gogh possivelmente sofria com a bipolaridade. Mais de 100 anos após a sua morte, cientistas afirmaram que a condição mental do autor, agravada com o alcoolismo, pode ter o levado a uma tentativa suicídio. O holandês morreu em decorrências de complicações do tiro que deu em si mesmo com uma arma de fogo.

A doença do artista fez com que a data de seu nascimento, 30 de março, se transformasse no Dia Mundial do Transtorno Bipolar, cujo objetivo é chamar atenção para a condição e eliminar o estigma social.

A doença se caracteriza pela alternância de períodos em que a pessoa fica entre a exaltação excessiva e a depressão, chamados de mania hipomania. As crises podem variar em intensidade, frequência e duração e o diagnóstico pode levar anos, segundo especialistas.

A psiquiatra Danielle H. Admoni, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), afirma que nos momentos depressivos, o paciente perde a satisfação e o interesse de realizar atividade, além de sentir “tristeza, alteração de sono, de apetite, baixa autoestima e pensamentos suicidas”.

Por outro lado, o polo de exaltação é caracterizado por “alegria extrema”. “[Há] uma necessidade reduzida de sono. Às vezes tem a libido aumentada, pensamentos acelerados. Então é como se fosse o contrário da depressão”, indica a psiquiatra.

Admoni pontua que o diagnóstico do transtorno é clínico, ou seja, pelo histórico do paciente, de acordo com os episódios vividos. Além disso, a condição também não tem uma causa definida. De acordo com a profissional, o que se sabe é a presença de influência genética, fazendo com que familiares sofram da mesma condição ou, em alguns casos, outras doenças psiquiátricas, como a depressão.

“Muita gente sabe que, por exemplo, o uso de algumas substâncias como cocaína ou de cannabis, podem levar a quadro de mania e hipomania em pessoas que já tem uma predisposição prévia. Então, na verdade, não tem muito como prevenir, embora evitar o uso de substâncias se já tiver casos na família seja uma forma de prevenção.”

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o transtorno bipolar atinge cerca de 140 milhões de pessoas em todo o mundo e está entre as 10 principais doenças incapacitantes em adultos jovens.
Beatriz Lima, 23, de São Paulo, foi diagnosticada com o transtorno há pouco mais de seis meses. A jovem faz acompanhamento para depressão e ansiedade generalizada desde os 18 anos, mas convive com as condições desde a infância.

“Eu tenho picos exagerados de humor, existem dias que eu estou super bem, faço planos, organizo tudo em planilha no excel, mas outros dias entro em depressão profunda e mal consigo sair da cama”, diz.
Segundo Lima, as consequências dessas crises são sentidas em seu corpo. “Tem dias que eu não consigo me alimentar, beber água, e tudo que eu como coloco para fora. Eu peso 50 kg, mas teve momentos que cheguei a pesar 37kg”, conta.

Para controlar a doença, Lima tem acompanhamento psicológico, além de usar medicamentos como estabilizadores de humor e antipsicóticos. “O que me ajuda de fato é a terapia, mas sei que nem todos têm acesso”, pontua, ressaltando a importância de não se isolar e procurar uma boa rede de apoio.

DIAGNÓSTICO PODE LEVAR ANOS – Identificar o transtorno pode demorar, segundo Fernando Fernandes, médico psiquiatra do Programa de Transtornos do Humor do IPq (Instituto de Psiquiatria) da USP (Universidade de São Paulo). O desconhecimento de profissionais da saúde, que não fazem uma pesquisa adequada sobre o histórico do paciente, ou a busca por ajuda especializada somente nos momentos depressivos dificulta o diagnóstico.

“Às vezes o médico até faz essa pesquisa, mas o paciente não reconhece essas situações como períodos patológicos, e muitas vezes essas situações passam despercebidas. Conversando com a família ou pessoas íntimas, essas pessoas acabam percebendo melhor esses momentos de aceleração psíquica, mas nem sempre estão presentes na consulta para relatar”, relata.

COMO LIDAR COM E DOENÇA – Fernandes, que também é pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos do IPq, destaca que a condição não tem cura, uma vez que se trata de doença crônica e recorrente. O paciente tem que aprender a conviver e a lidar com o transtorno pelo resto da vida, pois mesmo com tratamento os episódios tendem a retornar.

Por isso, o médico destaca a importância de um diagnóstico preciso, acompanhado de terapia adequada. “Se o diagnóstico é de Transtorno Bipolar, a base do tratamento são os estabilizadores de humor, muitas vezes mais de uma medicação precisa ser usada e a psicoterapia é muito importante para manter o paciente estável”, aponta.

O psiquiatra afirma que evitar o uso de substâncias como álcool e drogas, respeitar o ciclo de sono e vigília, manejar o estresse, ter momentos de lazer, praticar exercícios físicos e investir no aperfeiçoamento pessoal são alguns cuidados recomendados. “A reação diante do diagnóstico pode variar entre os pacientes. Alguns ficam impactados, outros se sentem compreendidos. O que eu digo sempre é que o diagnóstico não muda a pessoa, mas possibilita o tratamento adequado e vai melhorar o prognóstico daqui para a frente”, indica o psiquiatra.

Por FolhaPress

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